São Paulo, quinta-feira, 6 de julho de 1995
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Cidade é refúgio da aventura e do exótico

MARCELO REZENDE
DO ENVIADO ESPECIAL A TÂNGER

A todo aquele que busca aventura ou fuga a cidade de Tânger lebrará sempre um homem: o escritor americano Paul Bowles, que se converteu em uma espécie de clichê sobre o Marrocos.
Escritor e músico, Bowles, que mora até hoje no Marrocos, decidiu permanecer em Tânger por culpa de seu extremo tédio em relação à cultura da Europa, expressado em ``O Céu que nos Protege", seu mais famoso romance, que depois seria transformado em filme dirigido pelo italiano Bernardo Bertolucci.
As experiências de Bowles e Bertolucci ainda ecoam na cidade. Os guias falam da casa onde mora ``o escritor americano" ou apontam os lugares que serviram de locação para o filme.
Vemos então as entradas dos bares ou um velho hospital, os lugares onde os atores Debra Winger e John Malkovitch levaram ao mundo a imagem, além de todas que a cidade já possui, de Tânger como uma cidade romântica.
Mas Bowles é apenas o exemplo máximo de um outro roteiro que a cidade oferece, baseado nas experiências, quase sempre existenciais, de alguns visitantes ilustres. São casas, bares ou praias indicadas com desenvoltura pelos marroquinos.
Assim, quando se volta pela estrada que leva ao bairro americano se vê uma casa isolada, no meio de um descampado, onde o músico inglês Briam Jones, logo depois de abandonar os Rolling Stones, se encantava com a música marroquina e o haxixe, uma droga comum, até hoje, nas ruas da cidade.
Quando se chega até a parte mais antiga de Tânger, a Medina, um pequeno café pintado em cores de um intenso azul, com apenas três mesas e um balcão de madeira, é apresentado como ``o café preferido" do guitarrista americano Jimi Hendrix e de Jim Morrison, líder do Doors, uma das bandas mais incediárias da Califórnia no auge do psicodelismo.
Resta, a quem visita o lugar, acreditar ou não em todas as histórias. Das drogas às orgias.
Mas há também os lugares que podem passar despercebidos até para os guias locais, que não se interessam em explicar ao viajante que foi na praia de Merkala que escritores americanos, como Willian Burroughs e Jack Kerouac, passeavam, quase sempre intoxicados pelo ópio.
Ou ainda as ruas onde o francês Roland Barthes caminhava, quando podia se afastar das aulas que ministrava na faculdade da cidade de Rabat, nos anos 60, no tempo que, para toda a França, a cidade de Tânger e todo o Marrocos eram apenas o ``Magreb", a região das colônias francesas na África.
Mas poucos, como Bowles, permaneceram. A grande maioria seguiu Barthes, que partiu em seu fusca vermelho pela Andaluzia, de volta à sua França de origem.
Na maioria dos casos, o que todos desejavam era apenas tirar férias da moral judaico-cristã em um lugar exótico, dotado de uma pobreza pouco agressiva, herança incomum de um violento passado de colonização.

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