São Paulo, sábado, 8 de julho de 1995
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Desconfiança de um metalúrgico

GILBERTO DIMENSTEIN

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, disse que as montadoras estão ``encenando" um pessimismo exacerbado. Objetivo: ``prejudicar" os metalúrgicos.
Paulo Pereira coletou documentos em montadoras. A partir deles, quer colocar no bolso dos empregados o aumento de produtividade. Ao pintar um quadro pior do que já está, segundo ele, os empresários estariam preparando um ambiente para a negociação salarial, ao mesmo tempo em que exigem concessões oficiais.
Ele obteve, por exemplo, dados de uma unidade da Ford na capital de São Paulo onde se produzem caminhões. Comparando-se o primeiro semestre deste ano com o mesmo período de 1994, a mão-de-obra cresceu 4,83%. Mas a produção, 57,35%.
A desconfiança do dirigente sindical cresceu com a leitura dos dados publicados ontem pelos jornais. No mês passado, as quatro montadoras bateram mais um recorde, produziram 31,4% a mais do que no mesmo período do ano anterior.
Comparando-se os semestres, a evolução foi de estupendos 14,54%. Note-se que 1994 já tinha sido um ano considerado muito bom pelos próprios fabricantes.
Resumo da ópera: as férias coletivas estão ocorrendo porque se apostou numa taxa de crescimento que, caso continuasse, dinamitaria o combate à inflação e as contas externas.
Típico do empresariado: quer faturar sozinho na hora da bonança, mas dividir a conta na dificuldade.
PS - Perguntinha: quando existe muita procura e pouco carro, o preço sobe, ensinam os manuais. Agora que se reduz a procura e abundam os estoques, por que, afinal, o preço não cai? É tão mais fácil demitir ou dar férias coletivas? Será que para as montadoras a economia de mercado só vale quando os preços são puxados para cima?

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