São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Mãe chora ao lembrar de 'parto adotivo'

CLAUDIO AUGUSTO
DA REPORTAGEM LOCAL

A dona-de-casa Virgínia Rodrigues de Freitas Silva, 33, não consegue esquecer a tarde de sexta-feira em que viu o menino Domingos pela primeira vez, em uma unidade da Febem.
``A mesma sensação que tive no parto do Tiago foi a que tive quando vi meu filho vindo pelo corredor", contou Virgínia à Folha, também em uma sexta-feira, na mesma Febem.
Domingos, 13, estava ao seu lado e viu a mãe chorar. Contido, não esboçou reação ao ouvir Virgínia contar sobre sua adoção.
``Diferença eu não sinto. Meu pai e minha mãe me tratam da mesma forma que tratam os meus irmãos", disse o garoto.
No caso da família Silva, coube ao filho adotivo o título de ``primogênito". Só depois da chegada de Domingos, Virgínia e o técnico em telecomunicações Ronaldo Aparecido da Silva, 36, decidiram ter dois filhos biológicos.
O ``primogênito" já chegou com quatro anos de idade. Virgínia e Ronaldo decidiram adotar uma criança ainda durante o namoro. Domingos demorou dois dias para adotá-los. ``Na sexta, ele me chamava de tia. Nós explicamos para o Domingos que nosso desejo era ficar com ele. No domingo, ele acordou e me chamou de mãe."
Sorriso no rosto, Ronaldo comunicou à Febem que ficaria com Domingos. Por causa da burocracia, no primeiro ano o casal conseguiu apenas a guarda da criança. Só depois o menino ganhou o sobrenome Silva.
A educação religiosa, no entanto, não esperou pela burocracia. Domingos passou a frequentar, com a mãe, os cultos da Congregação Cristã do Brasil. Com o pai, participava de missas da Igreja católica. Optou pelo catolicismo. E o time? Palmeiras, como o do pai.
Cada vez mais, o carinho de Virgínia e Ronaldo e a rotina da escola iam apagando da memória de Domingos as lembranças da Febem. ``Só lembro de duas cenas. Uma vez tomando café e outra passeando na Febem", contou.
No mês passado, Domingos pediu para visitar a Febem. ``Queria rever. Queria conhecer onde eu estive", justificou o menino.
Os pais concordaram. Segundo Virgínia, a única forma de uma adoção dar certo é estabelecer uma relação franca com a criança.
Ela disse que, caso Domingos ainda fosse um bebê no momento da adoção, contaria para o filho toda a verdade. Vale o mesmo para os filhos biológicos.
Foi no dentista que o irmão Tiago, aos cinco anos, descobriu que seu irmão mais velho era adotivo.
O dentista pediu detalhes do parto de Domingos. Virgínia falou da adoção. ``Dô (Domingos), o que é adotivo?", perguntou Tiago. Coube à mãe explicar. De maneira franca.

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