São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Bebês têm até hora para trocar fralda

Não há colo nem na hora da mamadeira

ALESSANDRA BLANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

As 473 crianças de 0 a 7 anos da Unidade Sampaio Viana da Febem são obrigadas a viver como um relógio. Têm hora para acordar, comer, dormir e até para ter as fraldas trocadas.
Se a biologia resolver descumprir o cronograma, o bebê vai ter que esperar. O número de fraldas para cada interno é contado.
Para essas crianças, o choro não significa garantia de atenção. ``Depois de um certo tempo, as funcionárias não escutam mais porque há muitas crianças chorando e elas têm que cuidar de todas ao mesmo tempo", diz o diretor da unidade, Wilson Barbalho da Fonseca Junior, 38.
Nem na hora da alimentação os bebês são pegos no colo. Como são 250 funcionários, que se dividem em quatro turnos, uma mesma educadora tem que dar comida para até quatro crianças ao mesmo tempo. Nada de mimo, todas ficam nos bebês-conforto.
``Aqui a gente não pega a criança no colo porque não dá tempo. Se não tiver um voluntário, ela nunca vai ter colo e muitas não têm", diz a jornalista Angélica Alves dos Santos, 43.
Ela tem dois filhos e trabalha há três anos na Febem cuidando das menores crianças da Unidade Sampaio Viana.
Angélica prestou concurso no Estado para trabalhar como educadora. ``Não sabia que era na Febem e que cuidaria de recém-nascidos, foi um choque", disse.
A jornalista tem que cuidar de dez crianças que variam de 16 dias a um ano e dois meses com a ajuda de mais uma educadora.
``A gente tem que fazer tudo, trocar fralda, dar comida, dar banho e remédio, como se fossem nossos filhos, mas são dez de uma vez", diz.
Angélica é casada e tem dois filhos. Ela afirma que cuida dos internos assim como cuida dos próprios filhos.
Como as outras educadoras, Angélica trabalha 12 horas seguidas dentro da Febem e tem direito a 48h de descanso. Mas, muitas vezes, tem que voltar ao trabalho antes para cobrir a falta de pessoal. O salário mensal é de R$ 750.00.
(ABl)

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