São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Escola feminina forma mulher mais segura

ANA ESTELA DE SOUSA PINTO; PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Garotas que estudam em escolas só para meninas têm melhor desempenho que as que frequentam colégios mistos e podem ter mais sucesso no emprego, afirmam pesquisadores norte-americanos.
``Em classes só de mulheres, as alunas conseguem desenvolver melhor sua capacidade de liderança", diz Ruthane Kurth-Schai, professora de educação do Macalester College (Saint Paul, EUA).
``O resultado é que elas se impõem na escola, ficam mais seguras e podem conquistar melhores postos no mercado de trabalho."
Kurth-Schai cita pelo menos 20 estudos sobre escolas femininas publicados nos últimos dez anos. Um deles, o livro ``Gender Issues in Education" (``Diferenças Sexuais em Educação", numa tradução livre, dos pesquisadores Herbert e Suzanne Grossman) diz que as meninas são inibidas pelos meninos nos trabalhos de grupo.
``Elas se deixam dominar. Por isso, começam a se considerar menos úteis e menos importantes." Grossman afirma que os homens aprendem mais em grupos mistos porque ignoram as mulheres.
Um estudo da Universidade de Nova York em escolas inglesas concluiu que garotas de escolas femininas têm notas 20% mais altas em biologia, 38% em química e 18,7% em física. O desempenho em leitura e escrita é 15% melhor.
Grossman cita outras vantagens: as alunas têm menos medo do sucesso, são menos ansiosas em competições e têm menos estereótipos sobre o papel das mulheres.
Alguns educadores defendem que, em escolas mistas, os alunos sejam separados nas aulas de matemática e laboratórios de ciências.
Universidades só para mulheres -como o Wellesley College (Massachusetts, EUA), onde estudou a primeira-dama americana Hilary Clinton- também melhoram o desempenho das estudantes.
Segundo a revista de educação ``Sign", entre as profissionais citadas no ``Who's Who in America", o número de formadas em faculdades femininas é 86% maior que o de escolas mistas.
Escolas só para um sexo estão sendo discutidas no Goal 2000, um projeto do governo americano que quer reformular totalmente o ensino público no país. Há propostas de colégios só para garotas, só para negros ou só para índios.
A idéia enfrenta oposição de alguns educadores. Um dos principais argumentos é que a adaptação a uma sociedade heterogênea é mais difícil para quem foi a escolas muito homogêneas.
Para a pesquisadora da Fundação Carlos Chagas Fulvia Rosemberg, é ``totalmente artificial" pensar em qualquer coisa desse tipo para o Brasil. ``Acho essa perspectiva americana muito pouco adequada à cultura brasileira. Para nós o gueto sexual é vinculado à repressão sexual. Segregar significaria um retrocesso", diz.
Segundo a pesquisadora, no Brasil, a subordinação das mulheres no plano profissional se deve muito mais à péssima qualidade de sua formação profissional. ``Classes mista ou separada não são um problema nosso", afirma.
Em 88, ela visitou uma universidade feminina americana em um simpósio sobre educação e mulher. ``Eles enfrentam problemas graves como alta incidência de anorexia (redução de apetite que pode levar à morte) e alcoolismo."
Segundo Rosemberg, na universidade brasileira ocorre uma ``segregação informal": os homens procuram carreiras de exatas e as mulheres, de humanas. Nessas áreas, elas teriam mais flexibilidade para conciliar carreira e família.
``Investimos em áreas que garantam simultaneamente uma participação no mercado de trabalho, mesmo com salário menor, e um projeto afetivo familiar", afirma.

A jornalista ANA ESTELA DE SOUSA PINTO está em Saint Paul como bolsista do World Press Institute.

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