São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Economistas desconfiam do desaquecimento

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os economistas concordam que é decisivo para o governo desaquecer a economia. Sem o desaquecimento, a meta de reverter os saldos negativos na balança comercial (exportações e importações) não será atingida.
O ex-ministro Mário Henrique Simonsen e o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore concordam: não há sinal de desaquecimento.
``Pelos dados disponíveis, não desaqueceu nada", diz Pastore. ``Eu quero ver os dados que mostram um desaquecimento", completa, duvidando, Simonsen.
Ele defende a necessidade de se esperar um tempo pela reação da economia às medidas já tomadas pelo governo.
Cláudio Gonzales, da consultoria MCM, afirma que o acompanhamento conjuntural da empresa mostrou ``uma melhora das vendas nas duas últimas semanas".
Ele pondera, porém, que ``todos os economistas apostam em um desaquecimento mais acentuado no final de julho e início de agosto", como reflexo da política praticada pelo governo.
Já Amaury Bier, economista-chefe do Citibank, avalia que os dados disponíveis são contraditórios. ``Alguns setores estão mesmo desaquecidos; outros apresentam até melhora das vendas", afirma.
Bier cita como os setores mais desaquecidos os de consumo duráveis (carros, aparelhos de som e imagem, por exemplo) e os que apresentaram melhoria das vendas os não-duráveis (comida, por exemplo). ``É um efeito do aumento do salário mínimo".
Ele acredita, porém, que a política de juros altos e de corte no crédito vai dar resultados. Os índices de inadimplência mostram, afirma, que está esgotado o ciclo de expansão das vendas a crédito.
Pastore é bem mais pessismista. ``O problema é que a economia precisa desaquecer, mas é preciso se perguntar se o governo dispõe de instrumentos para provocar esse desaquecimento", diz.
``É preciso perguntar ao governo quanto ele quer desaquecer e como ele vai fazer isso?", pergunta.
O ex-presidente do BC respondeu com essas indagações a avaliação feita pelo economista do Banco de Boston, José Antônio Pena Garcia.
Para Garcia, o espaço de manobra do governo está se estreitando e já não mais possibilidade de se mexer no câmbio sem algum impacto na inflação -que o desaquecimento procura minimizar.
Ele imagina um cenário em que o governo vai procurar, antes de mais nada, continuar empurrando os problemas com a barriga.
Concordando com a tese de que o governo precisa desaquecer a economia para poder reverter a balança comercial, Garcia pondera que o grau de desaquecimento também tem limites.
``Uma recessão mais profunda fará cair a arrecadação de impostos. O que se tem visto é que, apesar de a arrecadação ter sido recorde, o superávit nas contas do Tesouro é muito estreito. Logo, se a recessão for muito grande, as receitas vão cair e vai aparecer mais um problema para o governo: o déficit de caixa."
Bier concorda com a complexidade da situação e lembra que ``ficaria muito mais difícil para o governo a articulação política no Congresso para a aprovação das reformas em um cenário recessivo na economia".
Por isso, Bier concorda com Garcia na avaliação de que o ajuste no câmbio vai provocar inflação. ``Eu não imagino uma inflação de um dígito nem nos próximos dois anos."
(JCO)

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