São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995 |
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Brasil é novo alvo da expansão dos EUA
FERNANDO CANZIAN
Em 1996, os chilenos serão incorporados ao Nafta, o mercado comum que reúne EUA, Canadá e México. Os EUA também esforçam-se em cortejar o Brasil e Argentina para se aliarem ao Nafta, apesar da recente criação, ao sul das Américas, do Mercosul, que reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai em um único mercado. A nova trama de interesses dos Estados Unidos, do Brasil e de outros 32 países americanos ficou mais nítida há uma semana em Denver, no Colorado, quando eles reuniram-se para discutir a formação, até 2005, da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O secretário de Comércio dos EUA, Ron Brown, disse que a integração do Brasil com os EUA é ``vital" e que seu país terá, em dez anos, mais comércio com as Américas do que com a União Européia (UE) e com a Ásia. A posição brasileira foi mais cautelosa, pois 26% das exportações do Brasil são destinadas à União Européia -que estuda integração com o Mercosul. O Brasil tem muitas reservas em relação aos EUA, a quem acusam de ``protecionistas" contra produtos que vão do suco de laranja ao aço. Mas os motivos dos EUA para atrair o Brasil são fortes: sem qualquer acordo de livre comércio, o país dobrou suas exportações para o mercado brasileiro entre 1989 e 94 e deve ter um superávit (exportações maiores que importações) de mais de US$ 2 bilhões este ano. Tirando o México, Brasil e a Argentina compram hoje a metade de tudo o que os EUA vendem aos países latinos. O representante de comércio dos EUA, Mickey Kantor, chegou a dizer que esperava que a Alca fosse antecipada de 2005 para o ano 2000. Mas o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Felipe Lampreia, diz que 2005 é apenas a data para fixar as regras da Alca. ``O início deve ser gradual". Lampreia também prega a integração somente ``via o Mercosul". O Brasil teme ser engolido pela força exportadora dos EUA em um eventual acordo. E a Argentina fica, por enquanto, refém desta posição, já que o Brasil é hoje 50% do seu mercado exportador. ``O interesse dos EUA no Brasil é enorme. Os carros japoneses que compramos, por exemplo, vêm todos dos EUA", diz Luiz Fernando Furlan, presidente da Sadia, que também negociou a integração em Denver. O empresário Roberto Teixeira da Costa, da Brasilpar Participações, afirma que os EUA passaram a enxergar o Brasil como promissor depois da crise mexicana em dezembro passado. Os EUA vão exportar US$ 53 bilhões ao México este ano -as exportações cresceram 67% entre 90 e 94-, mas passam por uma crise de confiança na economia e política do país, especialmente depois de terem gasto US$ 20 bi para socorrer os mexicanos. E foi exatamente depois da crise no México que os EUA retiraram das negociações da Alca três exigências que pareciam definitivas: a de obrigar países como o Brasil a respeitarem as patentes dos EUA (evitando a pirataria de produtos) e de regras mais rígidas para proteção ambiental e da mão-de-obra. ``Não dá para exigir tudo ao mesmo tempo", justificou Mickey Kantor. Texto Anterior: Economistas desconfiam do desaquecimento Próximo Texto: Para o Chile, Mercosul é ``retrocesso" Índice |
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