São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Para o Chile, Mercosul é ``retrocesso"

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O Chile só será incorporado ao Nafta no ano que vem, mas já prevê conflitos entre seus participantes e os países do Mercosul.
O chileno Manuel Feliu, presidente do Conselho de Empresários da América Latina, que reúne 14 países da região, diz que o Mercosul é um ``retrocesso" que ``entorpece" a liberdade de comércio.
Representando 60% das indústrias chilenas, Feliu contou à Folha em Denver, há uma semana, as consequências do processo que abriu a economia do país aproximando-o do mais rico mercado do planeta, os Estados Unidos.
Segue a entrevista:
(FCz)

Folha - O Mercosul nunca interessou ao Chile?
Manuel Feliu - Para nós, o Mercosul representa um retrocesso, pois aumentou o protecionismo para os países de fora com alíquotas de 35%. Para o Chile poder entrar no Mercosul, teria de aumentar as tarifas de importação dos atuais 11% (em todas as áreas, exceto automóveis, que são de 45%) para os mesmos 35%, o que não faz nenhum sentido. Temos um mercado aberto para o mundo inteiro com tarifa de 11%. Não vale a pena nos fecharmos para apenas quatro países (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai). O Mercosul tem um propósito que entorpece a liberdade de comércio.
Os EUA também jogam contra o Mercosul, tentando atrair individualmente cada um dos países, especialmente Brasil e Argentina, para seus próprios interesses.
Folha - Qual será a maior dificuldade na integração das Américas?
Feliu - Serão as barreiras criadas pelos interesses de cada país. O jogo de interesses é pesado, especialmente das grandes empresas que querem o protecionismo para continuar sobrevivendo e mantendo seus privilégios. Mas quem vai perder sempre com a manutenção do protecionismo serão os consumidores. Protecionismo significa menos empregos e menos investimentos externos, sempre. A abertura chilena trouxe dificuldades iniciais que depois transformaram-se em surpresas agradáveis, como investimentos produtivos de todo o mundo.
Nós levamos quase 20 anos para mudar o mercado. O processo trouxe muitos sacrifícios ao Chile, que passou por longos períodos de recessão, quebra de empresas e desemprego. Mas hoje temos uma economia competitiva.
Folha - Qual é o perfil atual do comércio exterior chileno?
Feliu - Temos uma balança comercial equilibrada. As exportações, que são de US$ 15 bilhões por ano, dividem-se em 30% para a América Latina, 30% para a Ásia e 30% para os EUA. Os EUA são um mercado tremendamente importante para nossas matérias-primas básicas e a América Latina para nossos produtos manufaturados. Com o Brasil, temos um comércio bilateral de US$ 700 milhões/ano.
Folha - O Brasil abriu rapidamente sua economia nos últimos anos. Mesmo assim, os EUA mantêm uma série de proteções contra produtos brasileiros. O que o sr. acha disso?
Feliu - Todo o problema reside na credibilidade do que fazemos. Não há dúvida de que os EUA são um país protecionista que só abrirá o seu mercado quando confiar que a abertura de seus parceiros não vai retroceder. É por isso que o Chile entrará para o Nafta.

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