São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Saiba como se negocia reajuste salarial no Brasil

VERA BUENO DE AZEVEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Saiba como se negocia reajuste salarial no Brasil
Existem dois estilos quase antagônicos de negociação salarial no Brasil, que tornam o país uma ``Belíndia" (junção de Bélgica com Índia), dizem os consultores de relações trabalhistas.
Um assemelha-se ao da Bélgica, país de Primeiro Mundo, pois é feito por sindicatos de trabalhadores fortes, como os metalúrgicos do ABC paulista.
Mas a grande maioria se parece com o da subdesenvolvida Índia, envolvendo sindicatos de trabalhadores fracos, com pouco ``poder de fogo".
Segundo os consultores, isso não deve mudar com as novas regras de negociação, introduzidas pela medida provisória 1.053, a MP da desindexação.
Próximo à data-base de cada categoria profissional, empregados e empregadores devem continuar tentando um acordo, que vai vigorar durante 12 meses, através de seus respectivos sindicatos.
Acompanhe como é, no Brasil, o roteiro de uma negociação salarial, segundo Julio Lobos, consultor de relações trabalhistas.
1 - O sindicato dos trabalhadores faz uma assembléia com a categoria para conhecer seus anseios e sua pauta de reivindicações. Em geral, são assembléias pouco representativas, com um pequeno número de trabalhadores.
Neste momento, o sindicato aproveita também para influenciar os trabalhadores e aprovar propostas que lhe interessam (como, por exemplo, elevar o valor da contribuição sindical).
2 - As empresas maiores e organizadas também reúnem seus gerentes e chefes para levantar seus anseios e pontos que devem ou não constar do acordo. Estas informações (embora devessem) não são repassadas aos empregados.
3 - Após elaborar a pauta de reivindicações, o sindicato chama nova assembléia de trabalhadores, para aprová-la. Em geral, já sabe que conseguirá obter apenas cerca de um terço dos itens da pauta, tanto em tamanho quanto em valor econômico.
Esta pauta é registrada na Delegacia Regional do Trabalho e entregue ao sindicato patronal.
4 - É marcada uma reunião com as comissões negociadoras de ambas as partes. Aqui começam as negociações. Conforme elas avançam, e dependendo da necessidade, os sindicatos dos trabalhadores vão chamando assembléias para mudanças na pauta e aprovação de novas propostas.
Os membros das comissões negociadoras são cuidadosamente escolhidos: um deve ser calmo, outro agressivo e um terceiro, conciliador. Existem o que ``bate" e o que ``alisa". Tudo é planejado para desestruturar a outra parte e tornar a negociação mais favorável aos seus anseios.
Cada parte tem ainda uma comissão assessora, que vai munir os negociadores de informações. Cabe a esta comissão saber a posição do governo, de outros sindicatos, resultados de acordos recentes, legislação etc.
5 - Feito o acordo, o sindicato submete-o à assembléia de trabalhadores. Se ele for aprovado, o processo chega ao fim. Caso contrário, inicia-se o segundo tempo do jogo, com tensões e pressões de ambos os lados, incluindo a greve. Nesse caso, se os conflitos não forem resolvidos, a decisão final fica a cargo da Justiça do Trabalho.

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