São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Uma revolução nos Estados

LUÍS NASSIF

Vem ocorrendo com muitos Estados brasileiros fenômeno animador. Depois de anos de atrofia, devido à ditadura administrativa da União, seus governos começam a descobrir seu papel frente ao processo de desenvolvimento estadual.
Saíram da posição de pedintes frente o governo federal para a de coordenadores de esforços estaduais de desenvolvimento, visando a criação de ambiente competitivo, propício à atração de investimentos -dentro dos mais modernos princípios de política industrial.
Minas Gerais saiu definitivamente de sua pasmaceira ancestral, e está tomada pela febre desenvolvimentista. Pela primeira vez em sua história, as chamadas forças vivas do Rio de Janeiro parecem unidas em torno de um projeto de desenvolvimento.
Governo e industriais do Espírito Santo também articulam-se em torno de um plano de desenvolvimento, que tem como carro-chefe o complexo logístico porto de Tubarão-Ferrovia da Vale do Rio Doce, e como instrumento de planejamento o orçamento participativo.
Sergipe tenta encontrar sua vocação na fruticultura em terra irrigada. Rio Grande do Sul e Santa Catarina ameaçam ir à guerra pela fábrica da Renault. E até Brasília tenta encontrar sua vocação econômica.

Racionalizando
Por vários motivos, trata-se de uma revolução nas funções de governo. Ainda recorre-se à guerra fiscal. Porém cada vez mais valorizam-se outros fatores, como a integração dos institutos de pesquisa e das universidades, a logística de transportes, os sistemas educacionais profissionalizantes, a eficácia dos serviços públicos, a disponibilidade de fornecedores etc.
De um lado, torna muito mais objetiva a alocação de verbas públicas.
De outro, obriga outros Estados a valorizarem fatores substantivos de competitividade.
São Paulo perdeu a fábrica de caminhões da Volks para Resende, no Rio de Janeiro, em grande parte devido à expectativa de um sistema portuário eficiente, que ainda nem existe -o complexo portuário de Sepetiba.
Ou seja, a inércia paulista para resolver a questão do porto de Santos vai começar a pesar decisivamente nas decisões de investimento no Estado.
Nos próximos anos, haverá grande probabilidade de explodir o plantio de soja no Norte, porque a logística de transportes fluvial-ferroviário-porto de Itaqui está permitindo colocar a soja no porto a preço US$ 1 inferior ao do porto de Santos -estando muito mais próximo do hemisfério Norte e da Europa.
Por várias razões, começa a perder relevância a massa crítica de empresas que garantia a concentração de investimentos em determinadas regiões.
Com a reforma fiscal acabando definitivamente com as guerras fiscais, governadores que não se reciclarem e Estados que não souberam se unir em torno de projetos objetivos de desenvolvimento vão perder o bonde.
É essa expectativa que vai acabar rapidamente com esses dilemas existenciais em torno de dogmas superados, que emperram a ação de muitos governadores sérios -como o paulista.

Homem público
Em fins de 1994, articulou-se no âmbito do governo paulista aquela que poderia ter sido a operação final de quebra do Banespa.
O governador Luiz Antônio Fleury Filho queria dinheiro para pagar empreiteiras. A solução proposta por alguns diretores do banco poderia ter aumentado o rombo do banco em mais US$ 250 milhões.
A operação foi abortada pela interferência pessoal do então diretor da carteira agrícola, Nelson Mancini Nicolau, que um mês depois pagou pelo espírito público, sendo afastado do cargo.
Na semana passada, Nicolau, homem tão escrupuloso com dinheiro público que jamais gastou mais do que 20% de sua verba de representação, que evitava até utilizar telefones do banco para fazer interurbanos para sua cidade, deputado autor da lei que acabou com a aposentadoria dos deputados -justo na sua vez de se aposentar- teve seu nome incluído na relação de diretores do Banespa passíveis de processo.
Não era nada, segundo informam os interventores do banco. Apenas um desses enganos -uma lista com o nome de todos os diretores do banco, apresentada como se todos fossem passíveis de processo- nos quais a imprensa incorre periodicamente.

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