São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Revista "Science" publica pesquisas sobre criatividade feminina e lunar

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A revista "Science" publicou em números diferentes dois tópicos de certo modo relacionados com a criatividade na neurologia e na tecnologia. O primeiro (266, 1.483) trata das pesquisas de Arnold Ludwig sobre distúrbios nervosos em escritoras. Já existem estudos sobre o assunto em literatos criativos, mostrando alta frequência de perturbações do temperamento e incidência de alcoolismo. Segundo ele relatou no "American Journal of Psychiatry" de novembro último, a criatividade literária em mulheres é acompanhada por vários tipos de distúrbios neuropatológicos.
Ludwig comparou 59 participantes de conferência anual de escritoras na Universidade de Kentucky com grupo de não-escritoras que todavia correspondem às escritoras quanto às variáveis sociais, demográficas e familiares.
Foi duplo o número de literatas com algum problema mental, mas o padrão difere do observado no sexo masculino. Muitas das escritoras tinham história de abuso sexual ou físico e de dificuldades alimentares. Mas o alcoolismo não era elevado, embora muitas manifestassem abuso de drogas.
Os números de Ludwig nos dois grupos (escritoras e não-escritoras) são os seguintes quanto às perturbações, vindo entre parênteses as percentagens das escritoras seguidas pelas das não-escritoras: depressão (56; 14), mania (19; 3), acesso de pânico (22; 5), distúrbios alimentares (12; 2), abuso de drogas (17; 5), abuso sexual ou físico na infância (39; 12).
A criatividade tecnológica, objeto do segundo tópico (266, 1.785), refere-se à construção e ao aproveitamento de Clementine, espaçonave de tecnologia leve planejada pela Nasa e pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, para explorar asteróide não distante da Terra e, de passagem, circular em torno da Lua para construir mapa geológico, litográfico e topográfico de grande resolução. Sete publicações especializadas em "Science" descrevem a história e as realizações de Clementine (266, 1.785).
Em começos de 1992 decidiu-se pela construção da nova espaçonave e sua missão, depois da conclusão de ser aplicável a nova tecnologia leve.
O nome do aparelho foi escolhido por ser o de uma velha canção ("My Darling Clementine") que fala da filha de um mineiro -a nave ajudaria na determinação do teor mineral da Lua e do asteróide- que acabaria perdida no espaço, à semelhança da espaçonave, após concluída sua missão em torno do asteróide.
Clementine orbitou a Lua durante 71 dias e colheu, entre outros dados, pouco menos de 2 milhões de imagens digitais da Lua em comprimentos de onda visíveis e infravermelhos.
A nave dispunha da mais moderna tecnologia, como recursos de topografia de laser e sistemas de captação de todos os comprimentos de onda, do infravermelho ao ultravioleta.
Os dados colhidos estão sendo analisados e permitirão o mapeamento global dos tipos de rocha da crosta lunar e a primeira investigação da geologia das regiões polares do satélite, assim como sua face oculta. Pode-se ter, agora, a visão total topográfica da Lua.

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