São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Líder do PRI culpa mídia por desgaste do partido

FLAVIO CASTELLOTTI
DA CIDADE DO MÉXICO

O PRI (Partido Revolucionário Institucional) registrou na semana passada nova derrota eleitoral, ao perder a Prefeitura de Victoria de Durango, capital do Estado de Durango (norte do México), para o PT (Partido do Trabalho).
O PRI, que governa o México há 66 anos e que, até 89, governava todos os Estados e capitais, hoje já não tem a mesma força.
O PAN (Partido de Ação Nacional), após estreita aliança com o PRI durante o mandato do então presidente, Carlos Salinas, está mais forte e conquista cada vez mais espaço político.
A senadora Maria de los Angeles Moreno, presidente nacional do PRI, descartou em entrevista a correspondentes estrangeiros que o partido esteja em crise.
Em 94, as mortes do candidato do PRI à Presidência, Luis Donaldo Colosio, e do então secretário-geral do partido, José Francisco Ruiz Massieu, abalaram o partido. Veio à tona o envolvimento de líderes do PRI nos assassinatos.
Tanto Moreno como o presidente Ernesto Zedillo atribuem a violência mexicana recente a um grupo de ``homens maus" dispostos a desestabilizar o país.
Moreno não nega que a imagem do PRI esteja desgastada e culpa os meios de comunicação e a oposição pela ``injustiça".

Folha - O presidente fala em um grupo de ``homens maus" disposto a desestabilizar o país. A senhora também acredita que os acontecimentos violentos dos últimos anos estejam conectados?
Maria de los Angeles Moreno - Eu não posso dizer que todos estejam conectados, mas muitos estão. Têm como propósito desequilibrar as instituições mexicanas.
A globalização trouxe vantagens e desvantagens. Uma desvantagem foi a penetração de redes internacionais de narcotráfico.
O narcotráfico se espalhou como um câncer e é o grande responsável pelo aumento da violência.
Mas isso não coloca o país na crise institucional citada constantemente pela mídia.
``Agência Polonesa de Imprensa" - Mesmo negando a crise institucional, não há dúvida que as acusações de corrupção e de uma relação abusiva com o governo desgastaram muito a imagem do PRI. O que o partido fará para reverter a situação?
Moreno - Uma das principais características do PRI é sua capacidade de mudança. Para reverter a imagem desgastada, estamos implementando reformas.
Há um estreito vínculo entre o PRI e o governo, pois há 66 anos o presidente do país é do partido. Mas isso não quer dizer que a relação seja abusiva.
Um dos pontos que estamos discutindo é reforma do Estado. Visto que a ligação entre o presidente e seu partido é inevitável, defendemos maior equidade entre os três poderes, capaz de dar maior equilíbrio e transparência à relação.
``Cadernos do Terceiro Mundo" - O PRI já mudou muito. Que ideologia predomina hoje?
Moreno - O PRI deriva dos principais avanços que proporcionou a Revolução Mexicana (1910- 1920) nos direitos sociais.
Continuamos apegados aos valores da Revolução, que são o bem-estar da população e a justiça social. Defendemos valores nacionalistas, mas sem chauvinismos ou exclusivismos.
``El País" - Qual a estratégia do PRI para que essas reformas tenham penetração nas cidades do interior, onde predomina a ``linha dura" do partido?
Moreno - A reforma do PRI terá alcance nacional e regional.
Outro ponto em discussão é a descentralização do poder. Estamos buscando uma redistribuição do poder entre as três instâncias: federal, estadual e municipal.
``Frankfurter Rundschau" - Os acontecimentos do ano passado (assassinatos de Colosio e Ruiz Massieu) não são indícios do desmantelamento do partido?
Moreno - Esses incidentes não nos afetam como instituição.
Assim como não se pode julgar toda a Igreja Católica se um de seus fiéis comete um crime, não podemos culpar o PRI pelos crimes de alguns de seus integrantes.
Esses indivíduos devem ser julgados e punidos pela lei. Mário Ruiz Massieu está detido nos EUA e sofre processo de extradição. Raúl Salinas está preso.
``Prensa Latina" - O excelente resultado que obteve o PAN nas últimas eleições estaduais pode ser interpretado como um sinal de derrota do PRI nas eleições presidenciais do ano 2000?
Moreno - O avanço do PAN se deve ao fenômeno do fortalecimento da direita em todo o mundo. No México, acredito que a crise também tem sua influência na mudança do panorama político.
NBC - A senhora criticou a política econômica do governo na semana passada. Quais são suas propostas alternativas ao programa do presidente Zedillo?
Moreno - O comitê econômico do partido está estudando projetos que permitam um aumento dos índices de produtividade do país e a reversão dessa melhoria ao próprio trabalhador, por meio de uma distribuição de renda mais equitativa.
A política agrícola e a produção de matérias-primas são outros aspectos que também merecem atenção mais adequada do governo.
ABC News - Qual sua opinião sobre o movimento de Chiapas e o subcomandante Marcos?
Moreno - Entendo que haja protestos e reivindicações, às vezes violentas, visto que, no México, não alcançamos um estágio avançado de igualdade social.
Há grupos marginalizados, sobretudo etnias indígenas mexicanas do sul e do sudoeste. Deve ser prioridade do governo dar tratamento especial a esses grupos.
Muitas reivindicações do autodenominado Exército Zapatista de Libertação Nacional coincidem com as reivindicações do PRI.
Mas houve um aproveitamento político do movimento, que seguramente não partiu dos índios do Estado de Chiapas.
Quanto ao subcomandante Marcos, se ele é de fato Rafael Guillen, como afirma a Procuradoria Geral da República, trata-se de uma pessoa preparada, inteligente, que escreve muito bem, possui excelente conhecimento da política mexicana e mantém ótima relação com meios de comunicação.
``United Press International" - Muitos integrantes do PRI estão infelizes com o fato de uma mulher estar à frente do partido. Como a senhora lida com isso?
Moreno - Manifestações de discordância com a liderança do partido sempre existiram e sempre vão existir. Não ocorrem simplesmente pelo fato de eu ser mulher.
Sou a primeira mulher a dirigir o PRI em seus 66 anos de vida. Considero isso muito positivo, pois homens e mulheres, quando trabalham juntos, têm condições de construir coisas melhores.

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