São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
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Rodin para multidões

A cena até poderia ser comparada à que se presenciaria, aos domingos, nas proximidades do Louvre, em Paris, ou na Galeria Uffizi, em Florença. Mas não era Paris, nem Florença. Era São Paulo. As gigantescas filas de até 7 horas de espera, em que estiveram mais de 80 mil pessoas nos últimos 30 dias, formaram-se mesmo à frente da Pinacoteca do Estado para ver as obras do escultor francês Auguste Rodin (1840-1917).
Que apelo teria sensibilizado tão profundamente os paulistanos? Para uns, o fato de a Rede Globo ter feito ali a locação de cenas de uma telenovela. Para outros, uma certa preferência do público por obras que ``falem ao corpo". Mas certamente nem tudo que se passa nas telas de TV chama os telespectadores para as ruas, nem toda manifestação de ``corpolatria" produz filas dignas de uma procissão.
Talvez outras explicações, de ordem psicológica, estética ou sociológica possam ser encontradas. O fato é que a exposição daquelas esculturas não necessariamente supera, em importância e atratividade, a qualidade de outros eventos, nacionais ou internacionais aqui realizados nos últimos anos.
Mas as dimensões inesperadas dessa participação alvissareira do público indicam a existência de uma autêntica, e aparentemente reprimida, demanda por consumo de eventos culturais, cujo perfil parece não ter sido ainda avaliado com cuidado pelas instituições públicas de promoção cultural.

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