São Paulo, domingo, 9 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Briga besta

CLÓVIS ROSSI

BUENOS AIRES - Se for para valer, é corretíssima a disposição do presidente Fernando Henrique Cardoso de evitar o conflito com a Argentina em torno da importação de veículos.
A relação custo/benefício desfavorece o conflito. Do total da pauta de importações brasileiras deste ano, apenas 9% são veículos. Desses 9%, apenas 3,4% vêm da Argentina. É ridículo brigar por tão pouco.
É claro que, para a Argentina, a relação custo/benefício de um conflito com o sócio maior seria ainda mais negativa.
A inversão nas trocas comerciais com o Brasil foi enorme e fulminante: em 94, o Brasil vendeu à Argentina US$ 523 milhões mais do que comprou. Nos primeiros quatro meses de 95, comprou US$ 422 milhões mais do que vendeu.
Foi tão imponente a expansão das compras brasileiras de produtos argentinos que acabou criando um risco insólito: o de importar trigo, justo a Argentina, que é tradicionalíssima produtora. O Brasil importou tudo o que havia disponível.
É natural que seja assim: o Brasil é um mercado muito maior do que o argentino. A população brasileira é umas quatro vezes maior.
Mas a porcentagem de marginalizados, no Brasil, supera de longe a da Argentina, mesmo depois de anos de descalabro econômico só parcialmente corrigido desde a estabilização da economia, a partir de 1991.
Logo, o mercado argentino parece pequeno, comparativamente, mas é suculento, em especial para os produtos destinados às classes média e alta, para as quais, infelizmente, se voltam mais as atenções de governantes e empresários.
O Mercosul é uma construção interessante, que ativou o comércio entre seus quatro sócios de uma maneira exponencial.
Basta lembrar que, em apenas quatro meses deste 1995, as trocas entre os dois sócios principais do Mercosul somaram US$ 3 bilhões. O mesmo que, em 1991, se levava um ano inteiro para conseguir.
Para quê brigar, então? Afinal, até o Maradona está se aposentando, para alegria dos brasileiros (e tristeza do futebol).

Texto Anterior: Rodin para multidões
Próximo Texto: Sr. cabeça, sra. ossada
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.