São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 1995
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EUA querem Brasil mais envolvido em missões de paz

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo norte-americano gostaria que o Brasil se envolvesse mais ativamente no cenário internacional, em especial nas inúmeras operações de manutenção da paz que as Nações Unidas desenvolvem hoje no mundo.
Esse recado será certamente transmitido hoje ao presidente FHC pela missão de alto nível do governo norte-americano que esteve ontem em São Paulo.
O governo Bill Clinton considera que um país que tem ``uma perspectiva global", como o Brasil, precisa estar mais presente no mundo. E as operações de manutenção da paz são um ``enorme desafio para os próximos anos".
A missão norte-americana que estará com FHC é composta por Thomas McLarty, conselheiro de Clinton, Strobe Talbott, o segundo homem do Departamento de Estado (a chancelaria norte-americana), Alexander Watson, secretário-adjunto de Estado para Assuntos Interamericanos, e Richard Feinberg, diretor de política latino-americana do Conselho de Segurança Nacional.

Agenda
A agenda do encontro tende a passar pelos seguintes pontos:
1 - Conselho de Segurança da ONU - Trata-se do coração das Nações Unidas, dominado pelas cinco potências da época do início da Guerra Fria (EUA, Inglaterra, França, URSS, hoje Rússia, e China). O Brasil quer ser membro permanente. Os EUA apoiarão, desde que o Brasil consiga o aval dos demais países do hemisfério.
Aí, há um potencial de divergência com a Argentina. A diplomacia argentina acha que o posto permanente para a América Latina deve ser rotatório.
2 - ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) - Começou a ser discutida na cúpula americana de Miami, em dezembro, com 34 países, exceto Cuba.
Há uma pequena divergência entre EUA e Brasil. As autoridades brasileiras deixam vazar que os EUA querem ir depressa demais e fazer acordos país por país.
O Brasil prefere um ritmo mais lento e acordos por blocos como o Mercosul (sua sociedade com Argentina, Paraguai e Uruguai) e Nafta (EUA, México e Canadá).
Os EUA negam a divergência. Mas dizem que tanto acelerar demais como retardar demais pode provocar ``descompassos".
Dizem ainda que a meta de 2005 como data para o início da área de livre comércio é ``perfeitamente alcançável".
Quanto a negociar por blocos ou país por país, garantem que tanto faz, mas temem que os blocos sub-regionais podem acabar criando regras incompatíveis com o superbloco que seria a ALCA.
3 - Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) - O governo norte-americano insistirá em que se trata de um ``projeto muito importante". E que se deve separar por completo a empresa norte-americana Raytheon, já escolhida para executá-lo, dos problemas da contraparte brasileira, o grupo Esca, apontado como inidôneo.
É uma agenda de poucas emoções, primeiro porque o contencioso Brasil/EUA, denso até poucos anos, está muito diluído. E, segundo, porque o prestígio de FHC junto ao governo Clinton é bastante alto.

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