São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 1995 |
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Georg Baselitz põe a figura de pernas para o ar
LUÍS ANTÔNIO GIRON
Pintou ``O Vale Sobre a Cabeça" (Der Wald auf dem Kopf), que mostrava árvores invertidas. Desde então, suas obras têm formado uma sucessão de pontas-cabeças de dimensões cada vez maiores e de definição inversamente proporcional. O ``mundus inversus" (ou ``perversus") de Baselitz está em exposição no museu Guggenheim de Nova York até 17 de setembro. São 117 telas e 19 esculturas em madeira que abrangem 32 anos da trajetória do artista. As telas vão dos primeiros monstrinhos com falos gigantes em posição convencional aos retratos gigantes, invertidos e quase-abstratos. As esculturas se baseiam na arte africana e perseguem uma ingenuidade perdida no Ocidente. É a maior restrospectiva de Baselitz já realizada. O objetivo da curadora da mostra e diretora do museu, Diane Waldman, é consolidar Baselitz como o artista mais radical do neo-expressionismo alemão -movimento que buscou no anos 70 e 80 questionar o abstracionismo ocidental e o realismo-socialista da ``cortina de ferro" por meio de uma arte voltada a um figurativismo ambíguo e ao gesto expressivo espontâneo. As inquietações de Baselitz se deram no limite entre as duas tradições, nas quais se formou. ``A mostra só foi possível graças a intermináveis conversas com Baselitz", diz a curadora. ``Passamos horas e horas discutindo e suas reflexões sobre a condição do artista alemão influenciou definitivamente a escolha das obras." Influenciado pelos surrealistas e pelos expressionistas abstratos, Baselitz se diz um ``macaco com pincéis": ``Não sei o que estou pintando, não tenho idéia do conjunto até que contemplo a tela pronta. Não sei o que dizer sobre o que pinto. Se faço uma profecia, esta não contém palavras". Um vídeo com depoimento está sendo exibido durante a mostra. Desde 1990 Baselitz costuma andar pelos quadros e suas pegadas podem ser vistas em muitas das obras expostas no museu. É uma maneira de enfatizar a condição de símio dos pincéis, capaz de mirar o mundo de ângulos os mais estranhos. Mas a espontaneidade observa um projeto de quebra na ordem da imagem. Ao colocar figuras de pernas para o ar, quer anular a significação do objeto. ``O objeto nada expressa", explica. ``Pintura não tem um fim. É autônoma. E eu disse para mim mesmo: se isso é verdade então tenho que pegar tudo o que tem sido objeto de pintura e pintar de cabeça para baixo". Considera esse o melhor modo de liberar representação do conteúdo. Sua contribuição reside em tentar eliminar a figura sem se valer da abstração ou da geometria. Em outubro, ``Georg Baselitz" vai para o Los Angeles Conty Museum of Art. De fevereiro de 1996 a maio de 1996, é a vez do da Smithsonian Instituiton de Washington. A mostra se encerra em maio e julho de 1996 na Nationalgalerie de Berlim. O mundo inverso vence no ``grand monde". Texto Anterior: Filmes de Hollywood infantilizam adultos Próximo Texto: Pintor escandalizou com falos Índice |
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