São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 1995 |
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Lesbianismo invade cinemas e locadoras
FERNANDO DE BARROS E SILVA
O texto da pág. E-4 da Ilustrada de 12/7 com o título "Lesbianismo invade cinema e locadoras" faz referência à revista "Sexy", e não à "Sexy Interview", como publicado. Lesbianismo invade cinemas e locadoras ``Até as Vaqueiras Ficam Tristes" (Even Cowgirls Get The Blues), do diretor Gus Van Sant, é uma espécie de culto tardio e barato a comportamentos alternativos que durante décadas alimentaram o imaginário norte-americano. Não se sabe ao certo se a idéia original era reviver os ``road movies" (filmes de estrada) ou ressuscitar os devaneios beatniks e seu desdobramento hippie. Talvez exaltar o misticismo oriental ou recriar o discurso feminista trocando os sinais dos filmes de cowboy. Seja qual for a intenção, ``Até as Vaqueiras Ficam Tristes" mistura um pouco de cada uma dessas coisas. E o resultado não poderia ser mais aborrecido. O filme é uma daquelas bobagens adolescentes salpicadas pelo discurso desgastado da contracultura. O caráter inócuo e o conformismo desse tipo de espasmo irracionalista não são novidade, mas neste caso a estupidez iletrada cumpriu à risca sua função. Por trás do verniz contestador, o filme atinge sua vocação conservadora. Van Sant, o mesmo de ``Drugstore Cowboy" e ``Garotos de Aluguel", desta vez foi buscar inspiração no livro homônimo de Tom Robbins, o que já explica as águas em que se move. Obra repleta de referências esotéricas, foi best-seller nos EUA, em 1976. A exemplo do original, o enredo do filme é algo miserável. Uma Thurman vive Sissy Hankshaw, uma garota cujos dedos polegares são enormes, como se fossem charutos. Essa anomalia física a transforma numa exímia carona. Sissy passa boa parte do tempo viajando os EUA em caminhões, motos e carros de terceiros. Depois de perambular a esmo durante anos, vai parar num rancho de Dakota (na costa Oeste) chamado Rubber Rose, que funciona como ``spa" para caipiras. Lá conhece um bando de vaqueiras que trabalham no local e trama uma rebelião para tomar o poder do estabelecimento. As metáforas que se sucedem então são duras de engolir. A começar pela imagem da utopia: em Rubber Rose vive uma espécie de pássaro em extinção que só ali se reproduz e vive livremente. Mas não é só. Na montanha ao lado do rancho mora um ermitão japonês com quem Sissy tem uma relação sexual na caverna. A sabedoria do velho guru se mede por grunhidos do tipo ``ha ha, ho ho, hee hee", que ele emite para explicar seu estilo livre de ser. Tudo é ``muito louco". A demência impera do começo ao fim. Até a relação homossexual de Sissy com a líder das vaqueiras, Bonanza Jellybean (Rain Phoenix), não passa de um patético clichê do que seria uma vida sexual alternativa. O erotismo pasteurizado do filme é tão libertário quanto a revista ``Sexy Interview". Os críticos profissionais costumam dizer que Van Sant é um dos ícones do cinema ``cult" independente. Deve ser. Talvez por isso seu filme pareça tão inconformista e alternativo quanto um pacote de arroz integral num supermercado. Mas de bobagem em bobagem seu lugar ao sol de Hollywood já está garantido: é dele o título de ``Debi & Lóide" da nova era. Vídeo: Até as Vaqueiras Ficam Tristes Direção: Gus Van Sant Elenco: Uma Thurman, Rain Phoenix Distribuição: Vídeo Arte do Brasil Texto Anterior: Professora da Royal Shakespare dá workshop de voz para atores Próximo Texto: Glenn Close encarna coronel durona em luta contra as Forças Armadas Índice |
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