São Paulo, sexta-feira, 14 de julho de 1995
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Esperança

WILSON BALDINI JR

A vitória de Maurício Amaral na última terça, em Campos do Jordão, fez ressurgir uma esperança aos ``amantes da nobre arte".
Há muito tempo que um ringue nacional não recebia um adversário -o canadense Fitzgerald Bruney- em condições tão boas.
Aleluia!
Espera-se que o nível seja mantido nos próximos combates. Mas será que os nossos empresários e dirigentes estão curados da ``síndrome da invencibilidade"?
Fico imaginando que futuro teria o saudoso João Henrique se lutasse nos dias atuais. Ele teve a oportunidade de disputar três vezes o título mundial dos meio-médios-ligeiros. Uma vez contra o argentino Nicolino Loche e duas com o italiano Bruno Arcari.
Detalhe: mesmo derrotado, João Henrique mostrou que tinha qualidades e por isso teve outras oportunidades. E os combates foram em Buenos Aires e em Gênova.
Hoje o pensamento é outro.
Arruma-se uma galinha morta, o lutador acumula uma série de nocautes (falsos), disputa o título mundial, sofre uma derrota acachapante (por não ter tido chance de acumular experiência e aprimorar sua técnica) e some do cenário pugilístico. São ``lutadores descartáveis". Os únicos beneficiados são os empresários.
Nos Estados Unidos, o importante é o que o lutador faz dentro do ringue e não a papeleta com os números de sua carreira.
O norte-americano Freddie Pendlenton foi campeão dos leves com mais de uma dúzia de derrotas. Já o mexicano Jorge Paez ainda disputa títulos, apesar das oito derrotas e dos sensíveis supercílios que sempre teimam em sangrar.
Outro exemplo de que a invencibilidade não garante boas lutas para o pugilista aconteceu na semana passada, em Atlantic City.
Os meio-pesado Merqui Sosa, com quatro derrotas e dois empates, e o norte-americano Charles Williams, seis derrotas e três empates, disputaram o título norte-americano da categoria.
Sosa venceu por nocaute técnico em um combate sensacional. Os dois seriam bons adversários para testar o nosso José ``Dinamite" Gomes. Não interessa o resultado. Com certeza, o brasileiro iria melhorar muito seu desempenho.
Não adianta massacrarmos os pobres uruguaios, chilenos e paraguaios. É como bater em bêbado.
Muhammad Ali é o exemplo. Admitiu que as derrotas para Joe Frazier (71) e Ken Norton (73) o fizeram amadurecer e ser um dos maiores em todos os tempos.

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