São Paulo, sábado, 15 de julho de 1995
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Caos na saúde atrapalha os transplantes de órgãos

DA REPORTAGEM LOCAL

O caos na rede pública de saúde no Brasil -causado pela falta de investimentos na área- é um dos principais responsáveis pelas enormes filas de espera por transplantes de órgãos no país.
O fato foi consenso entre os especialistas que participaram do debate ``A Doação de Órgãos" no auditório da Folha. Todos defenderam maiores investimentos.
Participaram do debate, na última terça-feira, o senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE), o vereador Paulo Roberto Faria Lima (PMDB-SP), a coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (seção do DF), Simone Teresa Amorim Nogueira, o ex-secretário municipal da Saúde de São Paulo Silvano Raia e o presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, Elias David-Neto.
Para o senador Alcântara -autor de projeto aprovado na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, que prevê a doação compulsória de órgãos (leia abaixo)-, ``a lei atual não está funcionando".
``É preciso uma lei mais ágil, que aumente o número de transplantes", afirma o senador.
Para Alcântara, a melhoria na captação de órgãos poderia também reduzir os custos da rede pública. ``O Sistema Único de Saúde gasta R$ 400 milhões por ano só em hemodiálise para pacientes com doenças renais."
O vereador Faria Lima sugere que o projeto de doação em tramitação no Senado permita que cada município faça a regulamentação da lei. Segundo ele, há pesquisas que indicam que 75% da população é favorável à doação. ``Mas essas pessoas não sabem como doar seus órgãos", diz.
O médico David-Neto, da ABTO, defende a criação de centrais de notificação de transplantes em todo o país, nos moldes da que existe em São Paulo.
A criação das centrais está prevista pela lei federal que rege a doação de órgãos, de novembro de 92. ``Mas a criação das centrais ainda não foi regulamentada. Não adianta haver doadores em localidades onde não há uma central para receber informações sobre doadores e receptores, nem equipes capacitadas ao transplante."
O hepatologista Raia afirma que ``é preciso discutir se o princípio da autonomia, que garante ao ser humano decidir o que fazer com seus órgãos, cessa com a morte".
Para ele, ``todo cadáver é doador, salvo uma negativa sua, em vida, ou da família".
A advogada Nogueira diz que a OAB é desfavorável ao projeto, ``diante da possibilidade do tráfico de órgãos". ``As penas não parecem suficientes, em um país de impunidade como o Brasil."

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