São Paulo, sábado, 15 de julho de 1995
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Para Igreja, projeto prevê expropriação

ANTONIO ROCHA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Igreja Católica é contra o projeto de lei aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado que transforma todo brasileiro em doador potencial de órgãos.
A opinião foi manifestada pelo padre Fernando Altemeyer Júnior, 38, vigário de comunicação da Arquidiocese de São Paulo.
``Toda a pessoa é corpo. Ela não apenas possui seu corpo, que é uma parte essencial da liberdade humana. Vivo ou morto, o corpo merece respeito", diz.
O padre afirma que a Igreja reconhece os efeitos benéficos da doação de órgãos. ``Mas deve ser uma doação e não uma expropriação. Se você não pode decidir o que fazer com seus órgãos, a doação vira expropriação", afirma.
Segundo Altemeyer, a lei é arbitrária por estabelecer ``o reverso do que deveria reger a doação de órgãos". ``Em vez de a pessoa dizer que quer doar, ela precisa dizer que não quer doar."
Evangélicos
A lei também não encontra apoio entre os evangélicos. ``Somos contra a obrigatoriedade", diz o pastor Orlando Marinheiro dos Santos, da Igreja Pentecostal Deus é Amor, que tem cerca de 350 mil fiéis em todo o Brasil.
A Deus é Amor desaconselha a doação de órgãos em geral. A igreja só admite a doação de sangue. Mas, segundo Santos, não proíbe os fiéis de doar órgãos.
``Deus deu a cada um seus órgãos. Mesmo que alguém tenha problemas em um rim, o Senhor pode dar a vida, ainda que a pessoa não tenha o rim."

Judaísmo
Representantes da religião judaica se dizem receosos com a lei. Segundo o rabino Yehuda Busquila, 65, da Congregação Israelita de São Paulo, ``o judaísmo não é contra a doação de órgãos".
``Mas a doação deve ser feita sob regras muito claras para definir bem quando uma pessoa pode ser considerada morta e evitar que a extração dos órgãos venha a prejudicar o doador", afirma.
Segundo ele, ``existem casos de hipotermia em que a pessoa pode deixar de viver por até 23 minutos e depois acordar". Em um caso como esse, diz Busquila, a pessoa poderia ter seus órgãos extraídos sem estar realmente morta.
``Quem vai decidir que o doador está morto? Um médico sem capacidade pode atestar a morte de uma pessoa que realmente não morreu. O coração pode ser retirado e a pessoa ainda estar viva."

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