São Paulo, sábado, 15 de julho de 1995 |
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Coro Kazansky revive diversão dos czares
LUÍS ANTÔNIO GIRON
Turnê: 22 de julho, às 18h30, no Mosteiro de São Bento, Salvador; dia 26, às 14h30 e 18h30, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro; dia 28, às 21h, no Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822, tel. 273-1633, Ipiranga, zona sul de São Paulo); dia 29, às 21h, Auditório Claudio Santoro, Campos do Jordão Preço: entrada franca O Coro Kazansky de Paris é a pincipal atração do 26º Festival de Inverno de Campos do Jordão. O grupo de 17 músicos, regido pelo compositor búlgaro Constantin Kazansky, 50, pratica uma arte dada como perdida: a música da corte dos czares, banida da Rússia em 1917. O Kazansky encerra o festival no dia 29 deste mês depois de uma pequena turnê pelo Brasil que compreende as cidades de Salvador e Rio de Janeiro. O coro é formado por músicos de diversas nacionalidades residentes na capital francesa. As vozes, acompanhadas por dois violões, produzem polifonia a partir de canções em russo e romeno. A massa coral dialoga com contorções vocais, a cargo da mezzo-soprano francesa Veronique Codolban-Kazansky, 40, mulher do regente. A atmosfera é de intensa carga emotiva. Fundado há oito anos como resultado das pesquisas de Kazansky junto a arquivos de Moscou e Leningrado (atual São Petersburgo), o grupo lançou um CD, ``Pale Reka", gravado em Bruxelas em 1993, e prepara um segundo disco, a sair no ano que vem. O Kazansy está sendo anunciado pelo festival como mantenedor da ``música cigana clássica". Mas não é bem assim. ``Não fazemos música cigana", explica Kazansky, em entrevista concedida anteontem, por telefone, de Paris. ``É música culta, escrita por compositores russos e romenos antes do comunismo." Durante cinco anos, o maestro vasculhou as origens de uma suposta música cigana executada por andarilhos na Rússia czarista. Ele havia lido em poemas e romances dos séculos 18 e 19 episódios sobre trovadores ciganos que levavam a música balcânica do campo para os palácios. ``Desvelei um mistério muito maior do que o das Vozes Búlgaras, minhas conterrâneas", brinca Kazansky. ``O exame das partituras mostrou que a tal música de ciganos era uma refinada arte cortesã urbana. A única relação com ciganos é que a maior parte dos trovadores que animavam a corte era de origem cigana." Kazansky detectou nessa tradição um estilo, um forma de executar todo tipo de música. ``É um estado de espírito balcânico, de inspiração cigana, capaz de traduzir para sua linguagem as tradições mais diversas." Vai provar a afirmação interpretando obras do brasileiro Heitor Villa-Lobos e do argentino Astor Piazzolla, por exigência da organização do evento, que homenageia este ano o Mercosul. ``É um desafio porque pela primeira vez vamos cantar música latina", teme o maestro. ``Mas tudo cabe no estilo cortesão czarista. Até tango e samba." Veronique define o repertório do coro como música de salão improvisada: ``Fazemos uma espécie de jazz com espírito clássico", explana Veronique. ``Improvisamos a partir de diversas fontes. A relação com o folclore cigano é longínqua. A ciência desse gênero musical está sobretudo na interpretação." Os contrastes emocionais também fazem parte do espetáculo. O maestro adapta para coro muitas canções tradicionais e se encarrega de escrever obras de acordo com aquilo que ele chama de ``estilo Kazanzky". ``O estilo se funda numa maneira de cantar", diz. ``É um espelho, em que refletimos o mundo." O maestro rejeita os rótulos que costumam aplicar ao coro: ``Somos marcados pelo rigor, a emoção e o pudor. Nos baseamos nos coros russos, mas evitamos os hinos ortodoxos, praticados por esses grupos porque a música religiosa escapa ao nosso estilo". Kazansky espera que o público se preocupe menos com a questão da origem que com a emoção: ``Os czares ouviam uma arte desenvolvida por seres sedentários e urbanos". Texto Anterior: Coletânea do Hoodoo Gurus antecipa show Próximo Texto: Coro de Chicago emociona a platéia na noite gospel do festival Índice |
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