São Paulo, sábado, 15 de julho de 1995
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Dicionário Houaiss pára por falta de verba

ELVIS CESAR BONASSA

A elaboração do dicionário do filólogo e ex-ministro da Cultura Antonio Houaiss, 79, está suspensa há dois anos por falta de recursos. Projetado para conter 400 mil palavras, quatro vezes mais do que os maiores dicionários atuais, deveria ter ficado pronto em 1991.
``Eu precisaria ainda de mais dois anos e cerca de R$ 800 mil", disse Houaiss anteontem à Folha. Segundo o filólogo, dois terços do dicionário já estão prontos.
O dicionário Houaiss começou a ser feito em 1986. A equipe de 12 pesquisadores está hoje desfeita e os quinze terminais de computador, em um dos andares do Centro Cultural da Academia Brasileira de Letras, no Rio, desligados.
Os problemas para a conclusão da obra começaram exatamente com os computadores, inadequados para a elaboração de um dicionário, segundo o filólogo.
``Eu não entendia nada de computador, fui uma vítima. Quando chegou, aquele computador já estava caduco. Agora, tenho dois terços do dicionário lá dentro e ninguém sabe como retirá-lo", lamenta Houaiss.
Thomaz Gregori, um dos proprietários da editora José Olympio, responsável pela edição, afirma que todas as condições combinadas com Houaiss para a confecção do dicionário foram cumpridas e o contrato ainda está em vigor.
Ele afirma que os recursos previstos pelos patrocinadores foram pagos e que o prazo chegou a ser estendido. No entanto, problemas no software (o programa do computador) impediram a conclusão.
Segundo Gregori, o projeto foi apresentado ao Ministério da Cultura para obter financiamento via Lei Rouanet (que prevê incentivo fiscal para patrocinadores). No entanto, não foi aprovado -entre outras razões, porque Houaiss assumiu o ministério e ficou em situação difícil para aprovar financiamento para um projeto de sua própria responsabilidade.
Houaiss diz que não espera qualquer auxílio do governo federal. ``O governo tem competência para entender esse tipo de coisa?"
Os computadores não são apenas ferramenta auxiliar. A obra foi pensada para funcionar, integralmente, apenas em computador.
A edição em livro já seria ``catedralesca", na definição do próprio autor. Além de definições de palavras, inclui todos os prefixos, sufixos e raízes de palavras, com definições completas. Isso permitiria decifrar qualquer palavra analisando seus elementos.
A versão computadorizada conteria mais coisas. Por exemplo, todas as gírias catalogadas e os arcaísmos -termos que aparecem na língua desde o século 16 mas que caíram em desuso.
Houaiss, no lançamento do projeto, dizia que seu dicionário poderia se tornar um banco de dados lexicográfico, funcionando em rede, constantemente alimentado com novas informações.
Isso significa que novas palavras poderiam ser incluídas constantemente, por operadores qualificados. Seria por definição uma obra inacabável. Por enquanto, está apenas inacabada.

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