São Paulo, sábado, 15 de julho de 1995
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A guerra das polícias

Durante a greve dos petroleiros, esta Folha manifestou-se contrária à paralisação depois que ela foi considerada ilegal pela Justiça. O grande argumento pelo fim imediato da greve é que a sua continuidade feria o Estado de Direito e, portanto, um dos alicerces da própria estrutura democrática.
A atitude em tudo condenável dos petroleiros de dar continuidade ao movimento mesmo depois de julgado abusivo pelo Judiciário encontrou seguimento -talvez mais grave- na atitude da Polícia Civil paulista na última quarta-feira.
Em tese, os policiais são os agentes pagos pelo Estado justamente para fazer cumprir a lei. Quando tomam em armas para impedir o cumprimento de uma ordem direta do Tribunal de Justiça de São Paulo, eles faltam duplamente em seu compromisso inequívoco de zelar pelo Estado de Direito.
Quando os agentes da lei armados e pagos pelo Estado se arrogam o direito de escolher quais decisões judiciárias eles vão cumprir e quais vão impedir mediante grave ameaça, eles acabam se nivelando aos criminosos comuns.
De fato, a ação dos cerca de 300 policiais civis para impedir o cumprimento da ordem de fechamento do Presídio Especial da Polícia Civil em São Paulo, devido aos absurdos disciplinares lá verificados, é um acinte. Agravante: os agentes civis chegaram a ameaçar com escopetas e metralhadoras a tropa de choque da PM que lá estava para fazer cumprir a sentença.
Também merece severas críticas a atitude da Justiça paulista e do governo do Estado de ter cedido à chantagem dos policiais. Ainda que evitar um pesado tiroteio entre policiais civis e militares em plena zona norte da capital paulista seja um imperativo, isso não justifica a tibieza das autoridades. No limite, até mesmo as Forças Armadas poderiam ter sido acionadas -como durante a paralisação dos petroleiros.
Os policiais rebeldes, apesar das vagas promessas de punição da Secretaria de Segurança Pública, provavelmente sairão ilesos, ao contrário do que ocorreu no episódio da greve dos petroleiros, quando vários foram demitidos e os sindicatos foram pesadamente multados.
Permitir que a inércia corporativa natural conduza esse triste episódio constituiria um verdadeiro acinte contra a democracia brasileira. A punição exemplar dos responsáveis pela ocorrência é uma necessidade inafastável e urgente. Jamais haverá democracia sólida no país enquanto a diferença entre policiais e bandidos for apenas uma insígnia.

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