São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995 |
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Governo financia experiência socialista
CARLOS EDUARDO ALVES
O projeto do ``socialismo sergipano" desenvolve-se na fazenda Quissamã, no município de Nossa Senhora do Socorro, a 17 km de Aracaju. Lá, 37 famílias ocupam legalmente desde 93 uma área de 355 hectares. A terra pertencia à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a sua estação de pesquisa estava desativada e abandonada desde antes da primeira invasão do MST, em 91. O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) comprou a área, assentou as famílias em acordo com o MST e, a partir daí, financia os projetos discutidos com a direção do movimento. Todos os trabalhadores do projeto são divididos por áreas de especialização (grupos para cuidar do gado, do arroz etc.) e têm suas horas de trabalho contadas por um coordenador. No final do mês, tudo que é produzido, e o eventual lucro, é dividido de acordo com a participação de cada um. ``A forma mais avançada de um assentamento é a coletiva", diz João Somarin Daniel, 27, um catarinense que foi enviado pelo MST a Sergipe para comandar as ``ocupações" -os sem-terra rejeitam o uso da palavra invasão para definir suas ações. O Incra também apostou no trabalho coletivo na Quissamã. Mas por um motivo mais pragmático: medo de que, se a área fosse explorada em lotes individuais, alguns assentados vendessem a terra. ``O projeto tem tudo para dar certo, mas existia o perigo de alguém ceder à especulação imobiliária por causa da proximidade da capital do Estado", afirma João Bosco de Andrade Lima Filho, superintendente do Incra em Sergipe. Em 94, o Incra e outros órgãos governamentais investiram cerca de R$ 105 mil na fazenda. A experiência coletiva no Nordeste brasileiro tem atraído entidades estrangeiras. A fundo perdido, a fazenda dirigida pelo MST já recebeu pelo menos US$ 80 mil, principalmente da Itália e dos Estados Unidos. A ajuda, no entanto, não entra no bolso dos trabalhadores. Quase tudo é destinado a investimento. A fazenda tem hoje cerca de 200 cabeças de gado (de leite e de corte), 17 mil aves (frango) e, até dezembro, a meta é chegar a possuir 20 mil kg de carne suína. Carne todos os dias Os trabalhadores não pagam aluguel e energia elétrica. Quase todas as casas têm TV e em algumas existem geladeiras. A produção local assegura que cada família coma carne pelo menos uma vez por dia, além da cota diária de dois litros de leite. Esses indicadores (acima da média na região), porém, não driblam os problemas causados pela falta de dinheiro imediato. Quando há retirada, cada família fica com no máximo R$ 40 por mês. ``A cultura do trabalhador que nunca teve terra e agora tem é que é necessário enriquecer logo, mas a conscientização serve para explicar a necessidade de investir na fazenda", declara Daniel. O líder acha que, com o aumento da produção, dentro de um ano, cada família vai poder retirar R$ 200 mensalmente. Texto Anterior: Ausência não é falta, diz petista Próximo Texto: Sirene protege contra os furtos Índice |
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