São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995
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Diferença nas taxas de juro gera nova concentração de renda

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A diferença entre o custo de um empréstimo em dólar e em real tem outro desdobramento importante na economia: concentra a renda.
No passado, com a inflação na casa dos 40% ao mês, a escolha de quem iria perder era dada pelo acesso ao que os economistas chamam de ``moeda indexada" (o dinheiro que rendia todo dia e não perdia seu poder de compra). Quem não tinha, pagava a conta.
Agora, essa ``escolha" é feita pelo acesso ao crédito externo.
No primeiro momento do plano, o assalariado ganhou renda, como diz Flávio Nolasco, da Brasilpar, com o câmbio valorizado (o dólar barato).
No segundo momento, transferiu esse ganho ou parte dele quando tomou um empréstimo em real para adquirir algum bem. O juro ``comeu" o ganho.
O efeito dessa perda é expresso, em parte, no aumento da inadimplência (atrasos nos pagamentos).
``Quem ficou endividado em real perdeu renda", define Pedro Bodin, do Icatu.
Já o ex-ministro Mailson da Nóbrega relativa essa transferência: ``Ela não assim tão automática. Ganhou quem pode se endividar em dólar e aplicar seu recursos em reais."
Ou seja, ganhou quem pode colocar essa diferença de juros no bolso -os bancos, os exportadores, os importadores e as empresas que emitiram títulos no exterior (captando recursos).
O maior perdedor, afirma o economista e colunista da Folha Eduardo Giannetti da Fonseca, foi o Estado -que é o maior devedor.
Para ele, a conta acabou sendo paga pelo contribuinte -os impostos garantem o pagamento dos juros.
Segundo a Folha apurou, o total de empréstimos do sistema financeiro chegou a R$ 235,8 bilhões, com crescimento de 14,58% em relação ao valor do final de 1994.
Houve um recuo nos empréstimos totais se compararmos esse crescimento com o nível de atividade da indústria paulista -o que é uma resposta ao aumento da inadimplência.
No mesmo período, o nível de atividade cresceu 20,5%, segundo dados da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Mas, entre dezembro e janeiro, os empréstimo em dólar através de operações no comércio exterior teve crescimento de 30,54%.
As empresas que puderam trocaram o perfil de seu endividamento: de curto prazo e em reais para de longo prazo e em dólares. Alguns bancos, conforme a Folha apurou, até facilitaram essa troca -usando parte dos recursos captados com a emissão de eurobônus.
(JCO)

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