São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995
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Dirigentes sindicais escapam de dívidas

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 80% dos petroleiros estão vivendo do cheque especial, segundo a Petrobrás. Entre os metalúrgicos de São Paulo, de acordo com pesquisa do sindicato, a maioria não consegue pagar em dia suas prestações no crediário.
Mas líderes sindicais das duas categorias e de outras ouvidas pela Folha, em sua maioria, escaparam da inadimplência típica da fase atual do Plano Real.
``Não tenho dívidas e com os juros do jeito que estão, se tivesse, estaria frito", afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, 38, também diretor da Força Sindical.
``Sou visado na Petrobrás e posso ser demitido a qualquer hora. Só compro o que posso adquirir à vista ou no máximo com dois cheques pré-datados. Não quero ser pego de calça curta", diz Antônio Carlos Spis, 44, coordenador da Federação Única dos Petroleiros.
Paulinho tem casa própria, de dois quartos, na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo. Por isso não precisa se preocupar com o líder dos aumentos de preço durante o Plano Real, o aluguel, que subiu em média 210% na cidade de São Paulo, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.
Spis está pagando prestações da casa própria, financiada pela Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo). São cerca de R$ 300 este mês por um apartamento no Brás, zona leste de São Paulo, ``o equivalente a um aluguel", diz Spis.
Ele foi afastado da Petrobrás, está sob inquérito administrativo e sem receber salário desde o dia 10 de maio. Se for comprovada falta grave, será demitido por manter a greve dos petroleiros de 30 dias, que acabou no dia 2 de julho, apesar de decisão contrária da Justiça.
Mas Spis recebe R$ 1.400 líquidos por mês do fundo de greve do Sindipetro de São Paulo. Sua ``companheira", Ana Paula de Araújo, escriturária do Banespa, ajuda com R$ 450 no orçamento.
O casal teve apenas um filho em junho de 91, que morreu um ano depois. Mas ajuda a mãe de Spis, Maria, e a tia de Ana Paula, Amélia, com alimentos. ``Sou muito gastão e a gente acaba não economizando nada", diz Spis.
Além de uma quitinete na Praia Grande, litoral sul de São Paulo, Spis possui um Gol 1.6 de 1990. Não tem investimentos no mercado financeiro. ``Para não deixar o dinheiro que entra parado na conta, a gente usa, no máximo, esses fundos de curto prazo com rendimento diário" (conhecidos no mercado como fundão).
Essa também é a opção do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD, Heiguiberto Guiba Navarro.

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