São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995
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Contenção de salários

DEMIAN FIOCCA

Restringir os aumentos salariais a índices de produtividade por empresa era inviável. Há sindicatos que negociam em nome de centenas de firmas numa só data-base. Alguns dizem que o governo simplesmente errou ao formular a MP da desindexação. Outros sugerem que o objetivo era desarticular os sindicatos, forçando negociações apenas por empresa.
O fato é que fixar salários por um ano quando a inflação está em 30% é de qualquer modo temerário. Mas a lógica econômica existe: evidenciados os limites e riscos da âncora cambial, promover o desemprego e conter salários é um meio alternativo de segurar por algum tempo a inflação. Uma eventual desvalorização tem menor impacto num ambiente recessivo.
O sucesso da estabilização em Israel, contrastando com o desastre mexicano e argentino, baseou-se em pacto social. Aqui, CUT e CNI reúnem-se e o governo ignora-os. Pactuar salários e preços é uma saída mais equilibrada do que impor todo o ônus a um só lado.
Na primeira página da Folha, a Volks certificou que não reporia as perdas salariais da inflação. Com a noção de que segurar salários é prova de patriotismo, ressurge a mentalidade de que metalúrgicos são ``privilegiados" por ganharem R$ 700 e petroleiros ``fascistas" por quererem 12% de aumento.
Hoffa, o controvertido líder sindical, vangloriava-se de ter conduzido os trabalhadores dos EUA da classe baixa para a classe média. No Brasil, parece haver quem se orgulhe de promover o caminho inverso.

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