São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995
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Idéia excelente

SÍLVIO LANCELLOTTI

Por mais que se esforce a Conmebol, a Confederação Sul-Americana de Futebol, por mais que tenha prestígio a CBF do genro Ricardo Teixeira, a Fifa já decidiu que não vai aceitar a proposta das eliminatórias de todos contra todos para a próxima Copa do Mundo, a se realizar na França em meados de 1998.
Pena, a idéia é excelente. Nesta mesma coluneta, quase dois anos atrás, eu defendi a tese das eliminatórias modernizadas, no mínimo contemporanizadas.
A Fifa, afinal, dispõe de um ranking de atualização mensal. Seria facílimo, para a entidade que coordena o futebol do planeta, usá-lo na distribuição das suas afiliadas.
Explico melhor. O Brasil, detentor do troféu, mais a França, organizadora da Copa de 98, permaneceriam isentos das eliminatórias. Deles em diante a Fifa estabeleceria uma escadaria de talentos, evitando aos melhores os confrontos com os inúteis.
Explico ainda melhor. Para facilitar o raciocínio, admitamos que não passem de 194 os concorrentes à Copa de 98. Livres o Brasil e a França, sobrariam 192 países. Desses, os outros 32 do topo do ranking da Fifa esperariam uma sucessão de jogos fatais entre as equipes menores do globo.
Claro que, para se economizarem os gastos de viagem e de estada, equipes discriminadas por região no planeta.
Restariam apenas 32 nações. Que se distribuiriam, com as 32 privilegiadas, em oito grupos de oito cada -embates no sistema de todos contra todos. As três melhores de cada chave assegurariam os seus passaportes ao Mundial. Haveria mais seis vagas a se decidirem num torneio subsequente entre os oito terceiros classificados.
Por tal processo, talvez o Uruguai não desabasse diante da Bolívia, a Dinamarca frente à Espanha, a Bélgica num desafio direto com a Holanda. O planeta não mais depende, exclusivamente, da geografia. Competência, grana, eis as palavras-chaves.
Acontece, todavia, que a Europa, possivelmente favorecida no novo sistema, hoje não mais defende as suas seleções. Tornam-se cada vez mais fortes os seus clubes, conforme prova a recente aliança mercadológica entre a Juventus e o Milan da Itália.
Ainda que a Conmebol, paupérrima Conmebol, obtenha da Fifa o prazer de fazer as suas eliminatórias no estilo de todos contra todos, as seleções deste desprezado continente não ostentarão os seus maiores craques de plantão. Todos irão disputar aquela competição em que ninguém mexe, a Champions League, a Copa dos Clubes Campeões da Europa. Copa que João Havelange engole no seu café da manhã.

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