São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Inteligência e imperfeição
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - O chileno Ricardo Ffrench-Davis é um dos mais brilhantes economistas da América Latina. Próximo à Democracia Cristã, foi diretor de estudos do Banco Central entre 90 e 92 e hoje é o conselheiro regional da Cepal, o organismo da ONU para a economia latino-americana.Antônio Delfim Netto (PPR-SP) dispensa maiores apresentações, suponho. Estaria, numa classificação já meio superada, à direita de Ffrench-Davis. Pois bem. Trabalhos recentes de ambos chegam a uma conclusão parecida, que eu simplifico grosseiramente da seguinte forma: não há, no supermercado das idéias, um produto pronto e acabado que possa ser comprado e aplicado às cegas. De Delfim: ``Democracia e capitalismo não são utopias que saíram prontas e congeladas da cabeça de algum gênio do cálculo abstrato e que existem, como as idéias platônicas, no mundo da imaginação. São processo de solução de conflitos nascidos da prática cotidiana, que se interpenetram e tiram a sua capacidade de evoluir da resolução, sempre incompleta e imperfeita, dos problemas criados por sua própria dinâmica". Trata-se de trecho de trabalho apresentado pelo deputado em uma conferência internacional realizada na Áustria em março último. Se o autor me permite, eu sublinharia, aí, o trecho ``resolução sempre incompleta e imperfeita dos problemas (...)". De Ffrench-Davis: ``A questão principal não é a de saber se se deve optar pela economia de mercado. O que de fato é preciso é escolher entre diversas formas de economia de mercado. O ponto de vista neoliberal é uma posição extrema que supõe uma fé cega no mercado". É trecho de longo artigo para ``Problemes d'Amérique Latine", editado pela Documentação Francesa. É uma pena que o espaço não me permita reproduzir mais trechos de cada um dos trabalhos, ambos instigantes. De todo modo, serve para deixar claro que a inteligência, da esquerda ou da direita, não está na seleção deste ou daquele modelo, mas em decisões políticas que são praticamente diárias. E necessariamente imperfeitas. O resto é vaidade. Texto Anterior: Lá vai o barquinho Próximo Texto: Todas as chances Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |