São Paulo, domingo, 16 de julho de 1995
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Todas as chances

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Numa conversa com o presidente Fernando Henrique Cardoso, na sexta-feira passada, disse-lhe uma frase que embasa minha visão do país: ele tem todas as chances de se tornar um dos maiores estadistas de nossa história. E não essencialmente por sua causa -mas por causa do estágio alcançado pelo Brasil.
Basta que ele consiga reformar o papel do Estado, garantindo inflação baixa, crescimento econômico e, ao mesmo tempo, estimular ao máximo a atenção ao ensino básico. Isso significa, em poucas palavras, dar corda ao investimento privado e educação, fatores decisivos para o progresso de uma nação.
Não é fácil, vai ter de enfrentar pequenos, grandes e médios obstáculos. Terá de se expor aos mais variados lobbies, conquistar a cada dia sua base de sustentação parlamentar, enfrentar e manter diálogo com empresários e trabalhadores.
Ele ganhou de bandeja a Presidência. Para sua sorte, entrou no Palácio do Planalto quando o Brasil, depois de tanto errar, concluiu sua maior revolução: a revolução dos consensos. Em maior ou menor grau, todos acreditam que a inflação é perniciosa, que déficit público deve ser combatido, que capital estrangeiro é positivo, que o empresário é motor do crescimento. E, finalmente, que sem ensino básico não se formam trabalhadores aptos à nova era profissional.
O governo está na vantajosa situação de, basicamente, só precisar fazer uma coisa: não atrapalhar. Ou seja, não produzir inflação, não gerar instabilidade, enxugar seus gastos. E, se possível, abaixar os impostos, facilitando a vida de quem deseja criar empregos e salários.
O Brasil tem uma situação, sob muitos aspectos, invejável. Só quem vive alguns problemas sabe quanto custam e como são dolorosos. Não temos guerras externas, internas, conflitos regionais, raciais, tribais ou religiosos. Não temos acidentes como terremotos, nosso clima é generoso, abundam água, sol e terra fértil. Temos apenas uma língua, há setores modernos em nosso parque industrial, somos uma nação exportadora, com elite sofisticada formada nas melhores escolas do mundo.
Daí se vê como, até agora, estamos sendo incompetentes.
PS - Tchau.

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