São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 1995
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Discurso frustra lideranças

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O pronunciamento do presidente Fernando Henrique Cardoso frustrou lideranças moderadas da agricultura e chegou mesmo a causar o temor de que o governo parta para um confronto, ``do tipo que houve com os petroleiros".
O temor foi manifestado ontem à Folha pelo vice-presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira), Pedro de Camargo Neto.
Para ele, o fato de o presidente ter falado em minorias e incluído entre elas os promotores do ``caminhonaço" dá margem ao temor.
O líder ruralista diz ainda que o presidente também insinuou que o protesto seria ``pró calote", o que não é verdade".
É importante observar que a SRB não participa do ``caminhonaço", assim como outras entidades do setor, como a CNA (Confederação Nacional da Agricultura).
Os ruralistas lamentam que o presidente não tenha falado desse aspecto e também do câmbio sobrevalorizado, que dificulta exportações e facilita importações.
Já o presidente da SRB, Roberto Rodrigues, preferiu enfatizar três aspectos que considera positivos no discurso e um negativo, que, na prática, é o essencial.
Os positivos: o reconhecimento de que a agricultura pagou um alto preço pelo Plano Real, a sinalização de interesse pelo setor e a afirmação de que não admite calote.
Ele lamenta: ``Ficou faltando solução para a inadimplência. A ajuda anunciada sinaliza para o futuro mas não resolve o presente."
Fernando Homem de Mello, professor da USP e especialista em economia agrícola, também critica a ausência de menção às alíquotas de importação. Pior: lamenta que o secretário de Abastecimento e Preços, Milton Dallari, tenha acenado com redução da alíquota de importação do trigo, de 10% para 2%.
``É um erro terrível de estratégia, no momento em que a safra está plantada, com recursos próprios e ajuda do clima e vai ser comercializada nos próximos dois ou três meses", diz.
Mas Homem de Mello diz que o presidente tem razão ao afirmar que o pior da crise passou e acha importante a liberação de cerca de R$ 700 milhões extras.
Tão importante que chega a dizer que se tais recursos tivessem sido liberados há três ou quatro meses ``a crise não teria chegado ao ponto que chegou".
Por fim, Homem de Mello lembra que os juros reais (descontada a inflação) estão caindo. Não por queda dos juros em si, mas porque eles pararam e a inflação subiu.
``Tudo isso somado ajuda, mas não resolve a crise porque o setor está abalado dada a profundidade da crise no primeiro semestre."
Pedro de Camargo Neto é bem mais crítico. Diz que a ênfase do presidente na questão dos juros é incorreta. ``O problema não é de juros, mas de preços", diz o vice-presidente da SRB.

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