São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 1995 |
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Superfaturamento de novo Depois de tantos escândalos, obra pública no Brasil representa, para muitos, sinônimo de superfaturamento. Como que para confirmar as suspeitas dos mais incrédulos outro caso vem à tona. Auditoria em curso no governo de São Paulo indica que por alguns materiais e serviços usados nas obras da rodovia Carvalho Pinto foram pagos valores que superam em até 346% os preços de mercado. A estrada que une a rodovia Ayrton Senna (antiga Trabalhadores) a Taubaté (134 km de São Paulo) é a mais cara já construída no Estado. A comparação é feita pelo custo do quilômetro de pista equivalente. A Carvalho Pinto foi orçada, ainda no governo Quércia, em R$ 360 milhões. Embora os três reajustes da rodovia tenham sido feitos durante a gestão Fleury, um dos assessores do ex-governador, ao negar irregularidades, declarou que ``não sabe como os valores chegaram a R$ 1,6 bilhão". Já as empreiteiras que construíram a estrada alegam que a Dersa aprovou os custos. Os preços teriam subido em função de mudanças no traçado da rodovia. É conhecida a dificuldade que empresas privadas têm ao trabalhar com o Estado. Frequentemente as obras são suspensas. Sem contar o risco que as empreiteiras correm de ser remuneradas com atraso ou até mesmo nem receber pelo trabalho executado. Essas circunstâncias servem de pretexto para a elevação de preços cobrados ao setor público. É inadmissível, portanto, que as estatais se reservem o direito de pagar quando bem entenderem. O velho hábito de rolar dívidas para governos seguintes há muito deveria ter desaparecido. Por outro lado, os governos não poderiam aceitar, como fez a Dersa, tamanho reajuste, sem fazer nova licitação. Três ex-presidentes da estatal e uma das empresas que fizeram a obra já foram denunciados pelo poder público por suspeita de irregularidades. É de se esperar que os órgãos encarregados das investigações sejam rigorosos na punição dos responsáveis pelo superfaturamento. E que essa louvável disposição de investigar não se limite a erros de gestões anteriores. Texto Anterior: Que as armas cedam à toga Próximo Texto: O asfalto e a terra Índice |
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