São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 1995 |
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O asfalto e a terra
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - Meses atrás, José Roberto Mendonça de Barros, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, dizia que os indicadores econômicos de que o governo dispunha ``eram do asfalto" e não refletiam necessariamente o mosaico da economia real.Naquela época, a conversa girava em torno de estar ou não havendo suficiente desaquecimento da economia. Pois bem: os dados hoje disponíveis indicam que, no ``asfalto", o desaquecimento pode até não ser tão avassalador. Mas, na ``terra", chegou perto do insustentável. É consequência direta da crise ocorrida na agricultura, que bateu em cheio nas cidades cujas economias giram em torno da atividade agrícola. O exemplo de Ribeirão Preto (SP), tratado sábado por esta Folha, é eloquente. Nos 81 municípios da região, o atraso nos pagamentos devidos subiu 225% nos cinco primeiros meses de 1995, em comparação com idêntico período de 1994. Os números absolutos também impressionam: a queda na renda da cana-de-açúcar, por exemplo, foi de R$ 350 milhões a R$ 400 milhões neste ano. Tanto quanto ou até mais do que os indicadores econômicos, houve uma piora feia do estado de espírito. ``O estado de espírito me parece pior do que a própria situação", avalia Marcel Solimeo, o economista que chefia o Departamento Econômico da Associação Comercial de São Paulo. Se fosse um problema tratável pelos psicanalistas, tudo bem. Não é. Com o ânimo abalado, o empresário tende a reagir de uma maneira muito mais defensiva, ``o que deteriora o quadro geral de maneira muito rápida", diz Solimeo. Por tudo isso, o discurso de ontem do presidente Fernando Henrique Cardoso é insuficiente. Até porque sofisma, ao dizer que ``os preços agrícolas quase não subiram". Na verdade, eles caíram. Em São Paulo, o produtor de feijão recebeu, entre janeiro/abril de 95, 60,6% menos do que no mesmo período de 94. O de milho, 11,7% menos. O de soja, 26,6% menos. Diagnóstico incorreto geralmente leva a respostas igualmente insuficientes. Texto Anterior: Superfaturamento de novo Próximo Texto: Sobre vacas e miseráveis Índice |
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