São Paulo, sábado, 22 de julho de 1995
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O Banco do Brasil na ordem do dia

LUIZ GUSHIKEN

Quem conhece de perto o Banco do Brasil está perplexo com o caos administrativo que se instalou na empresa nos últimos dias.
Em 15.09.94, em artigo nesta Folha, José Serra traçou um perfil do Banco do Brasil. Ao citar um estudo da Fundação Getúlio Vargas, publicado na revista ``Conjuntura Econômica", sobre os cem maiores bancos em funcionamento no país, o hoje poderoso ministro do Planejamento afirmava que ``os indicadores contrariam a idéia corrente de que o BB carrega uma estrutura funcional inchada".
No entanto, expressando mais uma contradição do governo Fernando Henrique, a atual direção do BB, com o consentimento dos ministérios da Fazenda e do Planejamento, introduziu um clima de terror e angústia dentro da instituição, no sentido de ver bem-sucedido um ``plano de demissões voluntárias", sugerindo com esta medida a idéia de que uma demissão em massa é o remédio para os atuais problemas financeiros por que passa a empresa.
Oferecendo muito pouco além do que o funcionário já teria garantido por lei caso fosse demitido, a direção do banco passou a ``convidar" os funcionários a pedir demissão. De um universo de 107 mil funcionários, haveria a necessidade de cortar 16 mil, reduzindo em 15% a folha de salários. Uma vez não alcançada esta meta, os desligamentos passariam a ser compulsórios.
Ao mesmo tempo, a direção do BB implementa uma política de enxugamento de funcionários por agências, exigindo dos seus gerentes a redução do seu quadro de pessoal, sem estudos técnicos que possam levar em conta as potencialidades econômicas de cada praça, as desigualdades regionais, os diversos estágios de informatização das agências, as horas extras trabalhadas e não computadas.
Em nosso país, o BB foi pioneiro na realização de concurso público para recrutamento de seus quadros. Nos últimos anos, a empresa vinha investindo pesado na implantação de uma das mais modernas políticas administrativas: o Controle Total de Qualidade.
Tal política tem como pressuposto fundamental inserir no empregado a idéia de que ele é parte integrante da empresa, razão pela qual se torna indispensável sua ativa participação na definição e na execução de objetivos.
Pois bem, tal política foi abrupta e criminosamente abandonada. O resultado não poderia ser mais desastroso: anos de esforços financeiros e administrativos foram jogados no lixo, provocando ainda a total quebra de confiança nas múltiplas relações existentes na estrutura hierárquica da empresa.
Trata-se de um erro grosseiro imaginar que a superação das atuais dificuldades financeiras do BB passa pelo corte de pessoal. Aliás, a redução do quadro de funcionários já vinha ocorrendo nos últimos anos. O problema, na verdade, é outro.
Se o BB é controlado pelo governo, com funções peculiares de um órgão de execução de políticas públicas, também é, por outro lado, um banco comercial que enfrenta concorrência e busca lucro.
O BB tem captado recursos no mercado com custos idênticos aos dos bancos privados, mas, por decisão governamental, empresta estes mesmos recursos para atividades de alto risco e baixo retorno -como é o caso do setor agrícola-, fato que evidentemente tem fragilizado sua saúde financeira.
O Tesouro Nacional também tem se aproveitado do banco, fazendo parte do rol dos grandes devedores. Para desempenhar suas atividades de banco social, buscando patrocinar o desenvolvimento por meio do fomento à agricultura e do estímulo a micro e a pequena empresa, a relação entre o BB, o Tesouro e outros agentes financeiros do governo exige uma normatização mais rigorosa.
Se o banco não pode renunciar à sua condição de banco de desenvolvimento social, não pode da mesma forma ser vítima de medidas improvisadas e irresponsáveis dos governantes de ocasião.
Ao reiniciar seus trabalhos, o Congresso Nacional não poderá deixar de fazer este debate, sob pena de compactuar com uma política que já está provocando o desmoronamento da mais antiga instituição pública de crédito do país.

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