São Paulo, sábado, 22 de julho de 1995
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Polonês revela coleção latina

ESPECIAL PARA A FOLHA

Um padre polonês está causando sensação no Festival de Juiz de Fora. Piotr Newrot, 40, missionário da Ordem do Verbo Divino, descobriu na Bolívia uma coleção de mais de 5 mil páginas de música sacra do período barroco.
"É a maior coleção de música barroca sacra do mundo", diz o pesquisador e compositor mineiro Harry Crowl. Newrot não confirma. Ele conta que, há quatro anos, começou a pesquisar os arquivos das antigas reduções jesuíticas dos índios chiquitos, no Departamento de Santa Cruz, no oriente boliviano. Escolheu o assunto como tema para seu doutorado na Universidade Católica da América, nos EUA, e foi para a Bolívia em 91.
As descobertas, feitas nas igrejas de San Rafael e Santa Ana, na região dos chiquitos, e de San Ignacio, na região dos índios mojos, deixaram-no abismado. "A qualidade da música feita nas missões jesuíticas se iguala à européia".
Os arquivos cobrem a produção musical das missões de 1691 a 1767. À exceção de Domenico Zipoli, autor italiano que se radicou em Córdoba (Argentina), o nome dos compositores permanece desconhecido.
Pesquisador a serviço do governo boliviano, Nawrot está empenhado em restaurar e publicar suas descobertas. Algumas delas podem ser ouvidas em CD, na coleção "Les Chemins Du Baroc", disponível apenas no mercado europeu.

Índios
Entre os autores anônimos, Nawrot crê haver índios. "Sabemos que os índios não apenas fabricavam os instrumentos, mas também sabiam tocar. Por que não poderiam compor?"
O padre conta que a educação musical dos índios nas missões jesuíticas começava cedo. "A partir dos oito anos de idade, as crianças mais aptas para a música eram selecionadas e tinham aulas de canto e teoria musical."
Brancos ou índios, o fato é que os compositores das missões tinham uma estética diferente da européia. Em vez de compor a quatro vozes, como era o costume da época, compunham para três.
Durante o fim-de-semana, Nawrot está promovendo um recital da música das missões na região dos índios chiquitos. "Vai ser a primeira vez em que eles escutam a música que seus antepassados tocaram, e, talvez, compuseram".
Embora houvesse música nas reduções jesuíticas do Paraguai, Uruguai, Brasil e Argentina, apenas os arquivos da Bolívia sobreviveram.

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