São Paulo, sábado, 22 de julho de 1995
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Chicago confronta o Monet vanguardista com o reacionário

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

Os bons artistas plásticos mortos são engrandecidos por periódicas e exaustivas exposições. Foi esse o propósito do The Art Institute of Chicago, com ``Claude Monet (1840-1926)", que abre hoje e fica até o final de novembro.
Desde os anos 60, nenhum grande museu europeu ou norte-americano se empenhava em homenagear o autor de ``Impressões do Amanhecer" (1872), quadro que foi parar nos compêndios de história da arte por ter dado origem à palavra impressionismo.
Mas as 155 telas agora reunidas funcionam como uma faca de dois gumes. Demonstram, de um lado, que o jovem Monet figura ao lado de Degas, Cézanne, Pissarro e Renoir (Van Gogh só veio depois) como um dos mentores de uma apreciável subversão estética.
Esse impressionismo tardio contrasta com a ousadia de um Picasso ou de um Braque, que já estavam em 1910 mergulhados no cubismo, momento privilegiado no parto da modernidade.
Monet parou no tempo e, no catálogo da exposição, o crítico Charles F. Stuckey fornece pistas para justificar esse imobilismo.
A principal delas: o impressionismo se tornou um fenômeno explosivo no mercado das artes plásticas quando a primeira geração de seus pintores já estava inativa.
Monet, filho da burguesia francesa, tornou-se um fornecedor quase exclusivo para galeristas, que tinha nos Estados Unidos, a partir de 1890, o maior ponto de venda. Milionários como Sara Hallowell ou Potter Palmer possuíam cada um, em suas coleções particulares, mais de 30 de suas telas.
O impressionismo, dos ateliês pobres de Montmartre, foi parar muito cedo nos salões de Chicago ou Nova York, e só isso explica a desnecessidade de os museus norte-americanos comprarem em leilões pós-1945 os quadros que estão em seus acervos. Eles já haviam sido doados pelos herdeiros de quem os encomendou.
É claro que os organizadores da exposição do The Art Institute não cometem a indelicadeza de desvalorizar o pintor que homenageiam.
Mas é também inevitável que a amostragem da obra reunida (Monet deixou ao todo mais de 2.000 quadros) seja repetitiva ao extremo porque a mesma paisagem era pintada várias vezes, para que o autor respondesse à demanda.
Monet não precisa ser rebaixado. Fica apenas patente que ele abandonou a vanguarda e mergulhou no circuito comercial.

O jornalista João Batista Natali viajou a Chicago a convite da Andersen Consulting.

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