São Paulo, sábado, 22 de julho de 1995
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Um jeitinho para os usineiros

Nos últimos anos, o recurso ao ``jeitinho" no Brasil tem estado cada vez mais sob suspeita. Identificar suas aparições, ainda que apenas por jocosidade, já é um meio de estigmatizá-lo. Ainda assim, até os que deveriam ser menos inclinados a empregá-lo têm suas recaídas.
O governo federal anuncia o financiamento de quase US$ 200 milhões aos usineiros de álcool, tendo em vista capitalizá-los para o cumprimento dos compromissos com crédito agrícola. Com isso, o Planalto conseguiria evitar o aumento do preço do álcool combustível para o consumidor final.
Por dois motivos, essa antecipação de pagamento gera profunda perplexidade nos agentes econômicos. Em primeiro lugar, até agora a Fazenda não definiu claramente critérios distributivos que justifiquem a preferência do ``pronto-socorro" oficial por este ou aquele setor produtivo que esteja eventualmente passando por dificuldades.
E não são poucos, nos mais diversos setores da economia brasileira, aqueles que necessitam de recursos por estarem atravessando dificuldades e também desejariam ouvir a sirene da ambulância que o governo agora envia para os usineiros de cana-de-açúcar.
Além disso, deve-se questionar a consistência macroeconômica desse ``novo mecanismo" de gestão das verbas públicas, que, segundo o secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, está sendo ``testado" e ``pode ser ampliado".
Tudo indica que caberá aqui à Petrobrás subsidiar mais essa estratégia de represamento das pressões inflacionárias. Resta saber quais outros ``jeitinhos" ainda serão produzidos para os futuros embaraços conjunturais e com quais ônus o contribuinte ainda terá de arcar.

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