São Paulo, sábado, 22 de julho de 1995
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Nações Unidas e indecisas

Mais de três anos de guerra na ex-Iugoslávia e a falta de qualquer perspectiva de uma solução minimamente civilizada para o conflito mostram a fraqueza da ONU para enfrentar determinadas situações. Depois dos campos de concentração organizados na região e dos estupros em massa dos sérvios contra prisioneiras muçulmanas, assiste-se agora à ``limpeza étnica" de cidades ocupadas. Além de deixar-se tomar como reféns, pouco mais os soldados da ONU fizeram.
À primeira vista pode ser incompreensível que as nações de maior poderio econômico e militar do globo fiquem praticamente imobilizadas ante as atrocidades de uma guerra civil colada a suas fronteiras. Mas esse mistério é apenas aparente. O cerne da indecisão está no fato de que uma atuação mais vigorosa implicaria alguma forma de ocupação militar. E não há como proceder a isso sem mortes entre possíveis exércitos internacionais.
Reunidos ontem, os governos da França, Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha decidiram reforçar as posições da ONU na região. Anunciaram ainda que os aviões da Otan poderão bombardear as posições sérvias se continuarem os ataques aos encraves muçulmanos. É um novo passo. Mas continua indefinida o que parece ser a questão principal: se a ONU, a Otan, ou um grupo de países líderes estariam dispostos a efetivamente impor uma solução para a região.
Do que se tem notícia, as barbaridades ocorridas na ex-Iugoslávia são muito maiores do que as verificadas, por exemplo, na ocupação do Kuait pelo Iraque. Mas nessa última grande intervenção militar havia, além dos nobres motivos de respeito à soberania e combate a um ditador, também o interesse de impedir o controle de 40% da produção petrolífera do planeta. A pobre ex-Iugoslávia não tem óleo.
Os chamados capacetes azuis estão se desmoralizando ante à bestialidade de uma guerra étnica. O que poderia ser a toda-poderosa força de elite da civilização ocidental mostra antes uma fragilidade da nova ``pax" mundial.

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