São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Falta de energia ameaça região Sudeste

JOÃO OSWALDO LEIVA FILHO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIDADES

A falta de energia elétrica ameaça as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste já a partir de 1997.
A avaliação é de diretores das principais estatais energéticas do país. Os motivos são os baixos investimentos e a possibilidade de o consumo crescer nos próximos anos a uma taxa acima da prevista.
``O ano de 1997 será crítico. Não dá mais para atrasar as obras", afirma Mauro Arce, diretor de operações da Cesp (Companhia Energética de São Paulo).
No primeiro semestre do ano, o consumo de energia no Sul e Sudeste cresceu 9,5% em relação aos seis primeiros meses do ano passado. A previsão era de cerca de 4%.
``Mantida essa tendência (de alta no consumo), é praticamente certo que falte energia", diz Otavio Werneck, diretor de projetos e construção da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais).
O setor avalia que, mesmo com a redução no ritmo da atividade econômica no segundo semestre, o consumo cresça 6% em relação a 94 -o crescimento médio foi de 3% por ano entre 90 e 94.
O percentual de aumento no consumo de energia acompanha o do crescimento da economia.
``Com esses índices vamos ter problemas. É claro que vai ter pouca usina para tanto mercado", avalia Benedito Carraro, diretor de planejamento e engenharia da Eletrobrás, principal estatal do setor.
Carraro, no entanto, acredita que o risco de falta de energia só seja maior em meados de 1998.
Investimentos
O Plano Decenal de Expansão 1995-2004, elaborado sob coordenação da Eletrobrás, prevê a necessidade de investimentos de cerca de US$ 6 bilhões por ano até 2004 e um crescimento anual médio no consumo de 4,6%.
Para 95 foram previstos investimentos de US$ 4,9 bilhões, mas os recursos não vão passar de R$ 3,3 bilhões. A informação é de Paulo Roberto Ribeiro Pinto, diretor financeiro da Eletrobrás.
A iniciativa privada estima que nem essa cifra será atingida.
``A duras penas devem ser investidos US$ 2,5 bilhões", afirma Luiz Gonzaga Bertelli, diretor de infra-estrutura da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo).
José Luiz Alquéres, diretor-executivo da Companhia Bozano, Simonsen e ex-presidente da Eletrobrás, também acredita que será difícil atingir os US$ 3,3 bilhões.
Nos próximos anos, serão necessários mais recursos -US$ 6,2 bilhões por ano até 99. ``Mas certamente o governo já exauriu sua capacidade de investir", afirma o diretor financeiro da Eletrobrás.
A estatal espera que, nos próximos anos, o setor privado arque com 33% do investimento -US$ 2 bilhões por ano. ``Isso não é realista com a atual legislação", diz Alquéres, que também preside a Iven S/A, empresa que hoje controla a Escelsa (leia texto ao lado).
Usinas
Falta de recursos significa atraso na construção de usinas hidrelétricas e termelétricas (responsáveis pela geração de energia elétrica).
Cronograma de obras atualizado em 95 pela Eletrobrás prevê um aumento na capacidade de geração de energia da ordem de 1.660 MW (megawatts) por ano até 1997.
Informações atualizadas das estatais responsáveis pelas usinas indica que a média deve ser de 1.383 MW. Esse ano devem ser instalados 1.686 MW. A capacidade de geração do país era de 54,1 mil MW em 94. O plano 1995-2004 prevê ampliação para 78 mil MW em 2004 -2.500 MW por ano.
Mantida essa situação de alta elevada no consumo e falta de recursos, os técnicos avaliam que o país vai depender de anos chuvosos para evitar a falta de energia.
``Vamos passar no limite. Se as obras atrasarem, já viu...", avalia Celso Ferreira, diretor de operações de Furnas, no Rio.

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