São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Isenção permite preço menor

CLÁUDIA TREVISAN; EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

As diferenças de impostos cobrados pelos Estados provocam uma verdadeira guerra de preços entre as empresas.
Favorecidas por impostos mais baixos, empresas que recebem incentivos podem oferecer preços menores que concorrentes sujeitas a impostos integrais.
O caso da indústria de café de São Paulo é um bom exemplo de como a disparidade entre as políticas fiscais atinge as empresas.
Há dois anos, a quase totalidade do café consumido pelos paulistas era produzido no Estado. Hoje, 10% desse mercado é ocupado por indústrias de outros Estados, especialmente mineiras e paranaenses.
Os números são do Sindicato das Indústrias de Café do Estado de São Paulo. O presidente da entidade, Natan Herszkowicz, diz que o café de Minas que entra em São Paulo paga 12% de ICMS.
Esse é o valor cobrado na maioria das operações interestaduais.
O mesmo produto produzido e vendido em São Paulo está sujeito a 18% de ICMS, que é a alíquota cobrada sobre grande parte das operações internas.
A diferença de seis pontos percentuais no ICMS permite que o café mineiro seja vendido, em média, a R$ 5,10, e o paulista, a R$ 5,50, diz Herszkowicz.
A disparidade é ainda maior quando o café produzido em outro Estado é vendido em São Paulo para o consumidor final (um banco, por exemplo, que compra café apenas para consumo interno). Nesse caso, a alíquota do ICMS é de 7%. O mesmo café produzido em São Paulo paga 18%.
Para enfrentar a concorrência, Herszkowicz reivindica a inclusão do café na cesta básica, sobre a qual incide imposto de 7%.
Outros setores enfrentam situação semelhante à do café. Na área de alimentos, por exemplo, a Arisco consegue praticar em São Paulo preços mais competitivos que a maioria de seus concorrentes.
Enquanto empresas similares pagam em São Paulo 18% de ICMS, cabe à Arisco contribuir com apenas 12% por usufruir de vantagens oferecidas por Goiás. Com um detalhe: Goiás dá prazo de dez anos para que esse pagamento comece a ser feito.
A assessoria de imprensa da Arisco afirma que as vantagens concedidas à empresa fazem parte do projeto ``Fomentar", aprovado pelo Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária) e adotado por 15 Estados.
O Confaz reúne os secretários de Fazenda de todos os Estados e tem a função de tentar equalizar a política fiscal praticada por eles.
Mas nem sempre investimentos com promessas de incentivos são bem-sucedidos.
São Paulo já usou artifícios desse tipo para atrair investimentos. Em 92, a cervejaria Brahma decidiu aumentar de 300 milhões para 800 milhões/mês a capacidade de sua fábrica de Jacareí (68 Km a Leste de São Paulo).
O fator decisivo para a indústria realizar a ampliação foi a promessa de incentivo fiscal por parte do governo do Estado.
Pelo acordo, a Brahma teria redução de ICMS por três anos (93 a 95). A diferença deveria ser paga nos três anos subsequentes, corrigida pela Taxa Referencial diária e juros de 7,5% ao ano.
Na metade de 94, o Estado simplesmente deixou de conceder a redução tributária, sem nenhuma explicação.
(Cláudia Trevisan e Emanuel Neri)

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