São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Estudante dá receita de cantada cibernética

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ``grande barato" de Ogum, como ele mesmo admite, é assumir um personagem qualquer (gay, lésbica, tarado etc.) entrar na Internet, começar a conversar e -por que não?- ``transar" com pessoas do mundo inteiro interpretando o personagem criado.
Ogum é o pseudônimo de Jean Boechat, 22, estudante de linguística e pesquisador de linguagem interativa da Escola do Futuro, da USP. Apesar da pouca idade, é um dos maiores conhecedores de Internet no Brasil.
Boechat faz sexo virtual em casa, de seu computador. Ele é uma das primeiras mil pessoas que conseguiram este ano a linha com a Embratel e não precisa entrar na rede por intermédio dos computadores de empresas, entidades ou instituições.
Nas madrugadas de navegação pelo sexo virtual, Boechat afirma que descobriu coisas interessantes sobre a Internet: ``No canal das lésbicas, 80% são homens que assumem o papel de mulheres que gostam de mulheres".
Meio encabulado, o pesquisador conta que uma vez participou de sexo grupal virtual.
``Eu entrei na fantasia. Acho que quem estiver a fim de ficar excitado, fica. Às vezes é divertido. Às vezes é perda de tempo. Valeria mais à pena se fosse de verdade. Às vezes penso que é um saco esse monte de gente solitária. Ainda bem que não dependo de sexo virtual. Para mim, a Internet é uma piração mental."
Ele afirma que, com o tempo, ``o sexo na Internet está ficando meio bobo". ``É como um brinquedo que vai perdendo a graça."
``Entrei no canal de lésbicas e comecei a conversar altas sacanagens com uma menina. Ficamos nessa um tempão. De repente, a menina pediu desculpas e disse que estava brincando e que era homem. Eu ri e disse que também era homem. Continuamos a conversa depois. Foi um dos papos mais inteligentes que eu tive na Internet."
Segundo Boechat, ``os affairs rolam o tempo todo" no computador. Fora também. ``Eu conheço um monte de gente que começou a namorar na Internet. Marcaram encontro e depois continuaram o namoro", diz.

A ``cantada"
Boechat mostra a receita básica para iniciar ``uma sacanagenzinha na Internet": ``A primeira pergunta é sobre o sexo de quem está do outro lado da linha, se é homem ou mulher. A segunda, sobre idade e o que essa pessoa faz. A terceira pergunta é mais direta. Normalmente pergunta-se as medidas, tamanho, peso..."
O pesquisador, que não teme se expor numa entrevista (``faço isso da minha casa, na minha conta, e é também uma pesquisa de linguagem"), critica a onda de ``puritanismo" que está acontecendo nos Estados Unidos, onde o Congresso e entidades ``tentam censurar uma forma de comunicação absolutamente democrática".
``Infelizmente, estão sendo criadas no mundo inteiro várias `ligas de senhoras católicas de Santana', que não entendem que só entra e fala de sexo na Internet quem quer. É preciso acionar uma série de comandos e esperar. Quem não quer, não entra", diz.
Assim como no sexo real, no virtual também acontecem as ``brochadas".
``É supercomum. Às vezes você está no maior papo, superanimado e, de repente, cai a linha. A brochada do sexo virtual é quando o sistema sai do ar", brinca Ogum, ou jampa embratel.net.br (endereço Internet), como também é conhecido Boechat.
(VA)

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