São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Estudante plagia Scliar e vence concurso no PI

Conto `A Vaca' foi usado para ganhar prêmio em 93

LUIS CURRO
DA AGÊNCIA FOLHA

O estudante Maurilio Soares da Silva, que cursa Direito na UFPI (Universidade Federal do Piauí), conseguiu ganhar, em novembro de 93, Cr$ 20.500,00 (R$ 81,00 em valores de hoje) sem fazer força.
Ele inscreveu um texto em um concurso de contos da universidade e obteve o primeiro lugar.
Só que se tratava de uma cópia do conto ``A Vaca", do livro ``O Carnaval dos Animais", escrito por Moacyr Scliar, hoje colaborador da Folha.
O professor de literatura Airton Sampaio de Araújo, um dos julgadores do concurso da universidade, só descobriu o plágio no final do ano passado.
Ao tomar conhecimento do fato, a universidade instaurou uma Comissão de Inquérito, que estudou o caso e concluiu que houve prática de estelionato pelo estudante.
Estelionato é o tipo de crime cometido quando se procura obter vantagem pessoal por meio ilícito e em prejuízo alheio.
Baseado no relatório da comissão, no início de junho o reitor da UFPI, Charles Camilo da Silveira, resolveu excluir o aluno do corpo discente da Universidade Federal do Piauí.
O estudante não aceitou a decisão, recorreu com um mandato de segurança à Justiça Federal no Estado e conseguiu uma liminar (decisão provisória) que anula a decisão do reitor.

Moacyr Scliar
O escritor gaúcho Moacyr Scliar, 59, diz que não irá tomar nenhuma medida judicial contra o estudante da UFPI por violação de direitos autorais. ``Nem tenho tempo para isso. Estou mais preocupado em escrever meus textos", explicou.
Scliar considerou a utilização de seu conto pelo estudante como ``uma versão ampliada do hábito estudantil de colar", em referência à atitude de alunos que, nas provas, se utilizam de diversas artimanhas para obter uma boa nota.
``Ter um texto tomado como objeto de plágio não deixa de satisfazer o escritor", comentou Moacyr Scliar. ``O estudante mostrou que tinha uma admiração, mesmo que oculta, pelo meu trabalho."
Scliar, porém, não aprova a atitude de Maurilio.
`` Se ele fez isso em um simples concurso de contos, dá para duvidar se agirá com honestidade em sua carreira profissional", diz o escritor.
Com a obtenção da liminar, Silva, que está no último semestre do curso de Direito, pôde realizar as provas finais do curso.
Caso seja aprovado, vai conseguir o diploma.
Mas, se no julgamento do mérito do processo a Justiça considerá-lo culpado, as notas serão consideradas inválidas e Maurilio não poderá exercer a profissão de advogado.

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