São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Volks criou primeira comissão do pós-64

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira representação por empresa importante que se tem notícia no Brasil após o fim do regime militar de 64 é a comissão de fábrica da Volks, criada em 78 pela própria empresa no ABCD.
``O Lula (Luiz Inácio da Silva, presidente do PT) era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e lutou contra essa comissão", diz Heiguiberto Guiba Navarro, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD.
Segundo ele, a idéia da Volks ao criar a comissão era tirar poder do sindicato de Lula.
Na época, alguns dirigentes do PT consideravam a comissão de fábrica um ``organismo de colaboração de classe e administração do capitalismo", segundo o presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho. ``O PT, no início, não estimulava comissões."
Hoje, tudo mudou. Muitos dirigentes do PT e da CUT foram ``desenvolvidos" nesse verdadeiro ``laboratório" do sindicalismo.
A comissão de fábrica da Ford em São Bernardo do Campo, por exemplo, foi a primeira ``conquistada pelos trabalhadores" no pós-64, afirma Guiba.
Guiba trabalhava na Ford na época em que a comissão foi criada, em 21 de junho de 82, e foi seu membro fundador.
``A comissão só foi possível depois de uma greve de onze dias."
Edmir de Freitas Garcêz, gerente-geral aposentado de recursos humanos da Ford, negociou durante seis meses a formação da comissão com os trabalhadores.
``A empresa também queria aquela forma de organização dos empregados", conta Garcêz.
Segundo ele, a Ford, na época, já estudava as formas mais modernas de gestão e apontava no sentido da implementação de conceitos da qualidade total.
``A qualidade total não existe sem diálogo direto com os trabalhadores", afirma Garcêz, que hoje possui a empresa Garcêz e Associados, de assessoria em negociações salariais.
Garcêz conta que no Japão as empresas só conseguem adotar modelos participativos de gestão porque há sindicatos por empresa. Nos EUA, conta, há representação dos sindicatos maiores, por setor, em cada uma das empresas do setor automobilístico, por exemplo.
No Brasil, ele defende o fim da unicidade sindical -obrigatoriedade da existência de um só sindicato por setor econômico em uma determinada região, hoje prevista na Constituição.
Mas recomenda que nenhuma lei determine que o sindicato deve ser por empresa. ``Os trabalhadores e empresários é que devem definir livremente sob qual forma terão de se organizar", afirma.
Hoje, a comissão de fábrica da Ford se mantém uma das mais atuantes. Com 11 membros, ela resolve ``os problemas do dia-a-dia dos trabalhadores", segundo Sebastião Mateus, o Tião, um dos membros da comissão.
``Quase todo o dia a gente se reúne com a direção da empresa", conta Tião. Há discordâncias com o sindicato de Guiba e muitas vezes a comissão da Ford adota posições tidas como mais radicais.
``Mas aqui e no sindicato a maioria é da mesma corrente política, a Articulação, e a gente acaba se entendendo", diz Tião.
Na Volks, a comissão ``pelega" foi destruída e os trabalhadores construíram uma forte e representativa, diz Guiba.
(CPL)

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