São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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Desindexando a moeda

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

O Banco Central anuncia mudanças nos fundos de curto prazo para agosto. Dando um prazo de 60 dias para os bancos se adaptarem (ou seja, só a partir de outubro é que as mudanças serão efetivas), os fundos e commodities devem ser extintos e o fundão (FAF) deve ter uma taxação maior sobre o seu rendimento diário.
A idéia é estimular o alongamento das aplicações financeiras, sem traumas e sem perdas para os aplicadores. Exatamente aquilo que sempre dissemos que era possível fazer tão logo a inflação estivesse baixa.
Os leitores desta coluna reconhecerão tal ``pregação", algo que vimos repetindo, em média, uma vez por mês.
Cabe até perguntar por que não se fez isto antes?
Mudanças na regulamentação financeira dos fundos de liquidez diária são necessárias para se alcançar a meta da inflação anual de um dígito.
Tal meta é factível nos próximos anos se o governo consolidar seu equilíbrio fiscal, que é bem precário no presente.
É importante entender que a ``moeda indexada" foi uma invenção brasileira que só aumentou as diversas distorções existentes na economia no final dos anos 70 (quando tal ``moeda" ganhou validade pela legalização das cartas de recompra).
Com a ``moeda indexada", ficava a falsa impressão de que os valores depositados nas contas de curto prazo estavam protegidos. Paralelamente, isto permitia que a inflação subisse para patamares desastrosos, sem que boa parte da elite brasileira se incomodasse.
Em janeiro e fevereiro de 1990, por exemplo, tivemos inflação mensal superior a 80% em cada mês. Taxas hiperinflacionárias. E taxas semelhantes poderiam ter sido observadas no final de 1994.
O próximo passo para o Banco Central é terminar com a ``zeragem automática" das operações bancárias no final de cada dia útil. Esta prática de maquiar resultados de modo que os bancos não mostrem posição deficitária no final do expediente é espúria.
Se, de fato, estamos caminhando para uma normalidade maior no relacionamento entre o BC e o mercado financeiro, não há lugar para tal prática.
Uma das grandes distorções das regulamentações atuais é que existem taxas de juros estratosféricas para que a rolagem da dívida possa ser feita sem abalar o mercado.
Com tais níveis de taxa de juros causa-se um estrago no equilíbrio orçamentário do governo. Como a maior parte das despesas com juros está escondida no balancete do BC, fica difícil para a população entender o jogo contábil.
O jogo, na realidade, é simples. Trata-se de permitir grandes ganhos especulativos aos conglomerados financeiros pelo ``serviço" de rolagem da dívida pública (o que é feito através da captação de fundos de curto prazo e sua aplicação na compra de títulos públicos).
Concluindo, vamos dar um voto de confiança à atual diretoria do BC e esperar que as mudanças anunciadas permitam extinguir a ``moeda indexada". Assim, deixaremos de ser os únicos no mundo a insistir nesta aberração.

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