São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Perder ou perder

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Há um aspecto esquecido em toda esta discussão sobre a chamada guerra fiscal, ou seja, sobre os incentivos que os Estados estão dando para que uma determinada indústria se instale nele e não em outro.
Refiro-me à qualidade de vida da população paulistana. Suponho que qualquer paulistano de bom senso se sinta tentado a ajudar na guerra fiscal contra São Paulo. É isso mesmo, contra São Paulo.
Por um motivo simples: a cidade está se tornando crescentemente inabitável. É o trânsito, é a poluição, é a violência urbana, é o cerco da miséria que agride a consciência de uns e o senso estético de outros (desconfio que estes sejam mais do que aqueles, mas não é o tema de hoje).
Claro que parte da culpa pelos males da cidade é de sua própria riqueza comparativa. São Paulo e seu cinturão industrial (cada vez mais largo, diga-se) são um pólo de atração incomparável, para as riquezas e para as misérias. Logo, se se pudesse distribuir a riqueza de maneira mais ou menos homogênea pelo restante do país, parte dos problemas paulistanos estaria amenizada.
Pena que talvez seja tarde para isso. O caso da instalação em Resende (RJ) da fábrica de caminhões da Volkswagen é ilustrativo.
Resende é mais São Paulo do que Rio (fica a apenas 270 quilômetros de São Paulo, pouco mais do que os 161 quilômetros que a separam do Rio). Logo, a nova fábrica fica com dupla vantagem: a da proximidade com o suculento mercado paulistano e a do atraente incentivo dado pelo governo do Rio.
A Fiat, mesmo instalada em Betim (MG), despeja a maior parte de sua produção na Grande São Paulo. Em ambos os casos, São Paulo perde em arrecadação potencial e ainda ganha mais veículos circulando pela cidade e arredores.
Desconfio que essa guerra só terá sentido se travada pelo ângulo da renda. Ou outras áreas bem mais distantes do que Resende e Betim se tornam mercados de fato atraentes para os pesos pesados da indústria ou São Paulo perderá sempre. Ou investimentos ou qualidade de vida. Ou ambos, como está ocorrendo agora.

Texto Anterior: Sem emprego
Próximo Texto: PSDBão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.