São Paulo, domingo, 23 de julho de 1995
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O melhor ex-presidente

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Volta e meia, perde-se tempo discutindo qual teria sido o melhor presidente da República. Com perspectiva já centenária, percebe-se que Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek encabeçam as listas, sejam elas de cientistas políticos e sociais ou de simples palpiteiros, como é o caso do cronista.
Falam também que, correndo por fora, estão Rodrigues Alves e Castello Branco -este preferido por 9 entre 10 estrelas do neoliberalismo atual.
Já é hora de pensarmos no melhor ex-presidente da República, e meu voto vai direto para o general João Figueiredo, aquele que pediu esquecimento e sabia o que estava fazendo. Sarney não pode ser considerado, porque ainda é, politicamente, candidato a novo mandato. Geisel deixou a presidência da coisa pública e tornou-se presidente de coisas privadas.
O pior parece que será Itamar Franco, que nem com um oceano de distância desencarnou do poder. Enquanto João Figueiredo cuida da própria vida a seu modo, torcendo pelo Fluminense e ficando irritado com o contracheque mensal que recebe todos os meses (tão-Brasil), Itamar está montado numa embaixada para a qual não tem qualificação alguma a não ser a conveniência da classe política de mantê-lo afastado.
Nem por isso, recebendo todos os recados para não se meter onde não está sendo chamado, Itamar se manca. Quer nomear amigos, alguns deles suspeitos de tramóias. Compreende-se que ele seja contra isso ou aquilo.
Como qualquer outro brasileiro, ele tem o direito de pensar assim ou assado a respeito das privatizações, do câmbio e do gol do Túlio. Mas se meter na atual administração é falta ética e bobagem política. Pior ainda é cobrar os serviços que prestou, lembrando a toda hora que elegeu FHC.
Pessoalmente, acredito que ele cometeu dois erros numa só atitude: ajudou FHC a eleger-se e agora está cobrando a ajuda. Fez o contrário de Túlio, que acertou duas vezes: quando aparou a bola com o braço e quando teve classe para meter o gol.

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