São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
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Britto espera lei eleitoral para deixar PMDB

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Apenas a definição das regras para a eleição municipal de 1996 separa do PSDB o governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto (PMDB), a prenda que os tucanos mais cobiçam no sonho de criar um superpartido.
Britto teme que o prazo de filiação a um partido para quem quiser concorrer em 1996 seja muito longo, o que atrapalharia a transferência em massa para o PSDB dos peemedebistas gaúchos que são candidatos a candidatos.
``Há uns 500 mil sujeitos na pista procurando colocação para a largada eleitoral. Você acha que, se a gente chamar, eles vão voltar para o box e começar tudo de novo?", pergunta o governador do Rio Grande do Sul.
É uma metáfora para sublinhar o fato de que os candidatos do PMDB para 1996 teriam que recomeçar a procura de espaço para suas candidaturas, se se transferirem para o PSDB.
Há outro dado que Britto não cita, mas é mencionado pelo governador catarinense Paulo Afonso Vieira, também do PMDB.
``Não há, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, tradição de mudar de partido", diz Paulo Afonso.
Ele cita os casos de Jaison Barreto, Nelson Wedekin e Dirceu Carneiro, que já foram todos do PMDB, todos senadores, e que perderam eleições quando trocaram de partido.
Mas o que revela o argumento usado por Britto é que ele não tem pressa para mudar de partido.
A regra mais constante, nas eleições, é dar prazo de seis meses antes do pleito para que um cidadão se filie ou mude de partido (ou mude de partido).
Como a eleição municipal é em outubro de 1996, se esse prazo for repetido na futura legislação, os correligionários de Britto teriam até abril de 1996 para trocar o PMDB pelo PSDB.
A pouca pressa de Britto é fácil de se explicar. Ele próprio admite: ``Na prática, já estamos com um partido novo. Eu falo com Covas e Tasso quase todos os dias e o Lerner fala mais comigo do que com o Brizola (Leonel Brizola, presidente do PDT de Lerner)."
Mário Covas, de São Paulo, e Tasso Jereissati, do Ceará, são dois dos principais governadores tucanos. Jaime Lerner, governador do Paraná, é outro nome de peso na lista de futuras adesões desejadas pelo embrionário PSDBezão.
Pressa
Já algumas correntes internas do PSDB têm pressa em conquistar Britto, Lerner e também Dante de Oliveira (PDT), governador do Mato Grosso, e Jarbas Vasconcellos (sem partido), prefeito de Recife.
``O PSDB precisa consolidar um miolo que defina a cara do partido", diz Covas. Tasso acha que, se aderem dez deputados, a cara do partido pode ficar diluída, ``mas se entram Lerner, Britto e Jarbas, é outra coisa".
Mais precisamente, o que os dois querem é engrossar o miolo do partido com nomes supostamente afinados com a social-democracia, para evitar que o inchaço transforme o PSDB num novo Arenão ou num PDMB.
Diluição
O risco de diluição do partido é apontado também por Eduardo Azeredo, o tucano que governa Minas Gerais.
Azeredo afirma que o número de candidatos a ingressar no PSDB é muito maior do que aparece na mídia: ``Ocorre que muita gente manifesta interesse, mas não é incentivada pelo partido. Por isso, a notícia não vai para os jornais", diz o governador.
Azeredo define, para o processo de crescimento do PSDB, uma política bem mineira. ``Não tem sentido escancarar o partido, porque perde a identidade, mas também não pode fechar", diz Azeredo.
Para gosto de Azeredo, o partido seguiria em todo o país o exemplo de Minas: lá, absorveu boa parte do grupo do ex-governador Hélio Garcia, que deixou o PTB. "Esse pessoal já esteve na campanha eleitoral conosco e agora participa do governo", afirma.

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