São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
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Católicos perdem monopólio na América Latina

CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Igreja Católica se abriu para os problemas políticos e sociais da América Latina nos últimos 50 anos, mas perdeu espaço para outras propostas religiosas, principalmente evangélicas e orientais.
A opinião é do padre José Oscar Beozzo, presidente da Cehila (Comissão de Estudos de História da Igreja na América Latina).
Para fazer um balanço da igreja no continente nos últimos 50 anos, a Cehila realiza desde anteontem sua 2ª Conferência Geral, em São Paulo.
Em entrevista à Folha, Beozzo aponta as quatro principais marcas da igreja nesse período: diminuição da influência católica, envolvimento com os problemas políticos e sociais, abertura para maior participação popular e para as culturas de cada país.
A primeira delas e a mais ``nítida", segundo ele, é que durante esse período se quebrou o ``monopólio" da Igreja Católica e se chegou a um pluralismo religioso.
Ele atribui essa redução da influência católica ao surgimento de várias propostas, principalmente orientais, e uma maior busca por valores religiosos, à qual a igreja institucionalizada não soube apresentar uma resposta.
A segunda marca na América Latina é o compromisso social e político das igrejas. ``As igrejas tomaram consciência da injustiça e da pobreza. Entraram nisso não só para denunciar como para procurar saídas", diz.
Segundo ele, a igreja se ``conscientizou" porque não era mais possível ficar insensível à situação social e política.
``Tivemos essa onda de ditaduras militares em todo o continente, onde a igreja tomou uma posição frontal contra esses regimes e de apoio à redemocratização."
Com um maior envolvimento político, a participação popular, em especial da mulher, cresceu.
``Antes, os sujeitos religiosos eram o bispo, o padre, o cardeal. Nesses 50 anos que se passaram houve uma emergência popular."
Nesse campo, as mulheres foram as ``protagonistas". Ele cita estudo feito pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) que mostra que 80% das celebrações dominicais católicas são feitas por agentes pastorais livres, principalmente mulheres.
``Mesmo que no discurso oficial essas coisas não fazem parte do projeto da igreja, a base mudou isso. A exceção hoje é o padre".
Uma quarta marca, consequência da maior participação popular, foi a ``aculturação" da igreja. ``Ao se enraizar no popular ela (a igreja) renasce com valores novos."
A Cehila, fundada em 1973, tem por objetivo escrever uma história geral da igreja na América Latina. É filiada à Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
A 2ª Conferência Geral, realizada na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo e no Colégio São Bento (centro), termina na próxima sexta-feira.

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