São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
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Teólogo quer nova linguagem

FERNANDO MOLICA
EM SÃO PAULO

Um dos principais teólogos católicos do país, o padre jesuíta João Batista Libânio, 63, ligado à corrente "progressista" da igreja -que enfatiza a necessidade de mudanças sociais-, diz que a Igreja Católica precisa encontrar novas formas de falar para os pobres e para grupos específicos, como os negros.
Professor do Centro de Estudos Superiores da Congregação Jesuíta do Brasil, em Belo Horizonte (MG), Libânio fez ontem uma exposição sobre "Modernidade Brasileira" durante a 17ª Assembléia da Conferência dos Religiosos do Brasil. Abaixo, os principais trechos da entrevista que concedeu à Folha.

Folha - Quais são as maiores dificuldades da igreja para a evangelização nas grandes cidades?
João Batista Libânio - Até recentemente, nós trabalhávamos com grupos marcados pela formação interiorana, católica. Falávamos, portanto, a mesma linguagem.
A mobilidade gerada pela urbanização e a influência de outras culturas geraram uma pluralidade cultural.
Além disso, movimentos como o dos negros voltaram-se para o resgate de suas culturas próprias, muitas vezes pré-cristãs.
A igreja tem que perceber, por exemplo, as experiências importantes dos negros nos terreiros, a importância da mãe-de-santo.
Folha - Na década de 80, o Vaticano proibiu celebrações como a Missa dos Quilombos, carregada de elementos de culturas negras. Isto não poderia voltar a ocorrer?
Libânio - Já há mais abertura de Roma. Além disso, creio que hoje as reivindicações da cultura negra não seriam feitas de forma tão agressiva como naquele momento.
Folha - Não seria oportunismo da igreja utilizar elementos de outras culturas?
Libânio - Não se trata de pegar um significante e dar a ele um novo significado.
O que propomos é que, por exemplo, os negros encontrem formas de exprimir a nossa fé na cultura deles. Não é o branco que vai dizer como isso deve ser feito.

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