São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Entre maio e julho

Ainda que os sinais de desaquecimento econômico sejam notórios, persiste a controvérsia quanto a sua extensão e profundidade. Esse é o conteúdo da disputa no uso de termos como ``desaceleração", ``crises setoriais" ou ``início de recessão".
O governo, responsável por juros elevadíssimos e restrições ao crédito, está entre os que minimizam a queda no ritmo de crescimento. Mas, ao divulgar o leve aumento do emprego em maio como argumento de que a economia vai bem, o Ministério do Trabalho fez mais por confundir do que por esclarecer. Afinal, estamos no fim do mês de julho. E os indícios mais firmes de desaceleração têm ocorrido justamente nos últimos dois meses.
Dada a demora na consolidação dos dados do governo, que são nacionais, podem-se usar as informações da Fiesp como aproximação do que ocorre no país. E o resultado é que o emprego industrial no Estado de São Paulo vem caindo ininterruptamente há 11 semanas.
Pelos dados da Fiesp, o Plano Real proporcionou um crescimento do emprego de 3,06% entre julho de 94 e abril de 95. Mas, depois disso, a oferta de trabalho começou a cair. Entre o início de maio e a segunda semana de julho, a queda acumulada foi de 1,25%. Ou seja, está-se perdendo, nesse aspecto, o ganho havido com o plano. Hoje, o saldo líquido de novas vagas é de apenas 1,81% em São Paulo.
O nível de emprego é usado para avaliar o comportamento da economia, pois reflete não só o patamar de produção, como também projeta o nível de consumo futuro. Afinal, uma redução da massa salarial diminui ao mesmo tempo o poder de compra da população.
Desse modo, existe uma espécie de ``efeito dominó" pelo qual um declínio nas vendas freia a produção, esta leva à redução do emprego, e as demissões produzem uma nova diminuição das vendas. Assim, uma queda na atividade tem efeitos que se prolongam para muito além do impacto inicial.
A sintonia fina da política econômica depende de uma ação rápida e atenta ao que ocorre hoje. Pouco adianta comemorar os resultados de dois meses atrás.

Texto Anterior: Sepultar o fascismo
Próximo Texto: Um passo no campo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.